O vice-presidente do Secovi-SP e presidente da Fiabci/Brasil, Ricardo Yazbek, conversou com Sérgio Ferrador, presidente eleito da entidade para 2009/2011, durante o programa “Momento Imobiliário”, exibido dia 24 de janeiro, pela TV Bandeirantes.
Os principais momentos da entrevista foram publicados dia 10/2, na coluna semanal da Fiabci/Brasil no jornal O Estado de S.Paulo e reproduzidos abaixo
Sérgio – Acho que vamos superar o momento com competência, mas ele aí está.
Ricardo – Sim, já respingou aqui. Até setembro, andávamos um pouco acima do limite, como um carro a 160 km/h para um limite de velocidade de 120, o que já vinha gerando alta nos preços e inflação de demanda. Aí, eclodiu a crise, e o Brasil vai ter agora de dar uma reduzida nessa velocidade para algo em torno de 70 km/h, mas já, já, volta aos 90 ou 100 km/h, ainda abaixo do limite, mas já comparável à velocidade de 2006/2007.
Sérgio – Como isto vai acontecer?
Ricardo – Em recente seminário organizado pela ONU em Nova York, com a participação de instituições como a Fiabci, sob moderação do The Wall Street Journal, chegou-se à conclusão de que é preciso maior fiscalização no setor financeiro, como aliás pediu o presidente Barack Obama em seu discurso de posse. Portanto, deve vir aí controle maior, principalmente nos Estados Unidos, o que ajudará os países a debelar mais rapidamente a turbulência. Além disso, não temos títulos subprime. A concessão de crédito, no Brasil, sempre foi muito seletiva e cercada dos necessários cuidados, a ponto de estar sendo estudada, lá fora, como exemplo de sistema financeiro saudável. Sempre cumpriu à risca as regulamentações de Basiléia, o que não aconteceu nos EUA e na Europa. Ademais, temos também programa de energia renovável, exemplo no mundo e que nenhum outro país tem.
Sérgio – Já estamos até exportando essa tecnologia.
Ricardo – Sim, nos últimos três anos, 95% dos veículos produzidos no Brasil dão ao consumidor a opção de escolher entre gasolina e álcool, sem similar em outros países. E mais, já somos autossuficientes em petróleo, temos um povo extremamente cordial, trabalhador. A miscigenação de etnias fez com que o Brasil seja visto lá fora como país realmente do futuro. Tenho certeza de que, dos quatro que formam o BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China –, o Brasil é o que reúne melhores condições. Enfim, temos o que a maioria não tem: democracia estável consolidada há anos e estabilidade econômica, o que nos garante credibilidade. Além do mais, acho impossível que esses megapacotes da União Européia, Estados Unidos e Ásia, de trilhões de dólares, não comecem a surtir efeito.
Sérgio – Vejo que os três primeiros meses são de reestruturação. Até lá, como ficam as linhas de crédito? Os bancos estarão atendendo às empreendedoras? Como ficará o crédito ao mutuário, a quem compra na planta? Como se consegue um financiamento?
Ricardo – Acho que, até março, estaremos ajustando, e depois, a partir de abril, vamos começar a melhorar. Recentemente, o Banco Central reduziu o juro em um ponto percentual (13,75% para 12,75%). Os dados técnicos justificavam que poderia abaixar de 1,5 até 2 pontos percentuais, mas já valeu. O crédito no setor é de longo prazo, é importante que o juro seja compatível com a possibilidade de se tomar esse tipo de empréstimo.
Sérgio – Vamos esperar então pela próxima reunião, quem sabe venha mais.
Ricardo – Por que esperar mais 45 dias, se Europa, Estados Unidos e Ásia fizeram reuniões extraordinárias para derrubar os juros? Acredito que teremos, em breve, nova queda e que o Brasil vai retomar já, já, seu inevitável destino que é crescer. Sim, o crescimento em 2009 deverá ser menor que o de 2008, menos um pouco até que o de 2007, na faixa de 2% a 2,5% no ano, o que, sobre uma base maior, como a de 2008, é bastante considerável.
Sérgio – Algumas empresas do setor imobiliário, não todas, conseguiram consolidar sua abertura de capital em 2008. Não sei seu ponto de vista, mas entendo que a consolidação dessas que ainda buscam deva começar a acontecer agora, a partir do segundo trimestre de 2009, e até com um pouquinho mais de velocidade.
Ricardo – Sim, porque a queda da taxa de juros vai impactar o crédito em geral, inclusive o imobiliário. Também aposto na consolidação da abertura de capital dessas empresas já em 2009. Por tudo isso, estou convencido de que o setor imobiliário logo, logo, voltará aos patamares de 2006 e apontando para crescimento sustentável.
O programa Momento Imobiliário é ancorado por Sérgio Ferrador, presidente eleito da Fiabci/Brasil (gestão 2009/2011), e vai ao ar pela TV Bandeirantes de São Paulo, aos sábados, das 9 horas às 9h30.