Em evento no Secovi-SP, promovido pelo NE – Novos Empreendedores do Sindicato, dia 25/3, o arquiteto Carlos Leite, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie, e consultor em desenvolvimento urbano sustentável, defendeu a ocupação de vazios urbanos para construção de cidades sustentáveis.
“O grande desafio do mundo hoje é reinventar as nossas cidades de modo mais sustentável. E o desafio do mercado imobiliário é fazer produtos, pedaços de cidades, enfim, bairros, de maneira mais inteligente”, afirmou o arquiteto, que destacou a realização de várias reuniões no Secovi-SP, por quase oito meses, para discutir um novo modelo de desenvolvimento urbano em São Paulo. “Agradeço o apoio do presidente João Crestana e do vice-presidente Claudio Bernardes, entre outros diretores do Sindicato.”
Megacidades – Segundo Carlos Leite, “ee num primeiro momento as megacidades se concentravam no hemisfério Norte, nos países desenvolvidos, hoje, elas estão concentradas nos países em desenvolvimento”, afirmou, citando como exemplos Lagos (na Nigéria), São Paulo, Rio de Janeiro, Buenos Aires, além de outras cidades no Oriente Médio, na Ásia, na India.
Leite defendeu cidades mais densas e criticou o modelo norte-americano de morar com baixíssima densidade, isto é, 2,5 habitantes por hectare. Para se ter uma idéia, as regiões mais densas de São Paulo tem cerca de 700 habitantes por hectare, informou.
O arquiteto fez um alerta: “se todos resolvessem viver do jeito americano, em casinhas, piscinas, deslocamentos gigantescos para fazer compras, gastando energia absurda para transportar uma pessoa, nós precisaríamos de 2,5 planetas. E só temos um. O modelo americano está falido. Isso é insustentável, praticamente um crime para o nosso planeta”, criticou.
Essa e outras questões foram discutidas no Urban Age , uma das principais conferências internacionais sobre urbanismo, realizado em dezembro do ano passado, informou Leite. Na oportunidade, o grupo do qual Leite faz parte apresentou o projeto “São Paulo: Diagonal Sul”, cuja ideia é transformar a área de aproximadamente 1,5 milhão de metros quadrados, entre a Mooca e o Ipiranga, em uma localidade multiuso: de residências, comércio e lazer. “A ideia é refazer a cidade São Paulo. Repensar uma cidade de forma mais sustentável”, afirmou.
Cidades sustentáveis – O arquiteto defendeu uma cidade mais compacta. “Dois terços do consumo mundial de energia se dá nas cidades, portanto, falar em aquecimento global e sustentabilidade é falar das cidades sustentáveis, que são, necessariamente, compactas, densas.”
Portanto, ao invés de deixar a cidade crescer para as extremidades, para periferias; Leite afirmou que a cidade deveria crescer para dentro. Para isso, “o mercado imobiliário precisa lançar produtos interessantes nos vazios urbanos. Ofertar vários tipos de habitação, dentre outros usos, nesses vazios”, sugeriu, lembrando exemplos mundiais, que mostram que “o desenvolvimento econômico local é sempre um motor no alavancamento da reurbanização desses lugares.”
“As cidades são interessantes, porque concentram diversidade e isso é muito benvindo para negócios. São modelos a serem seguidos”, disse, acrescentando que as cidades mais criativas são as que admitem diversidade e geram inovação, pois têm talentos.
O arquiteto disse ainda que existe uma sequência lógica de um caminho a percorrer na reurbanização de grandes e antigas áreas industriais em megacidades como São Paulo. “As cidades devem se reinventar crescendo pra dentro. São Paulo precisa reurbanizar seus vazios urbanos”, reafirmou.
Além disso, destaca Leite, São Paulo precisa enfrentar com determinação enormes desafios, como melhoria nos índices gerais de qualidade de vida; redução dos níveis de desigualdades sociais e econômicas; melhorias no alto volume de tráfego de veículos (particulares, de transporte e de carga); aumentar a quantidade de áreas verdes; melhorar a qualidade do ar; equacionar a questão crescente da economia informal e de violência urbana e tráfico de drogas; entre outras questões relacionadas à degradação dos espaços públicos; déficit habitacional e à falta de mobilidade e eficiente sistema de transporte público.
“Algumas cidades vão organizar uma infra-estrutura mais eficiente do que outras. Saberão equilibrar interesses públicos e privados; descobrirão que tipo de incentivo leva à perseverança e ao crescimento; encontrarão formas de aproveitar ao máximo a relação entre água, eletricidade e transporte. Essas serão as cidades da oportunidade, cidades que muitos vão escolher para viver e trabalhár. Serão centros de crescimento e inovação para as empresas dos próximos cem anos, para companhias que souberem enxergar longe. E se transformarão em imãs para a humanidade, sustentados pelos alicerces de uma infra-estrutura de qualidade – alicerces que quase sempre passam despercebidos, a não ser quando não funcionam”, concluiu o arquiteto.