Em 2010, existiam 57,3 milhões de domicílios permanentes no Brasil. Em comparação com o ano 2000, foram construídas 12,5 milhões de novas residências, de acordo com censos do IBGE.

O número total de domicílios permanentes em 2010 era, segundo o IBGE, 28% superior ao de 2000. Nesses dez anos, a quantidade de casas cresceu 27% e o volume de apartamentos, 43%.

Confrontando o número de novas residências construídas entre 2000 e 2010 a um estudo do Departamento de Economia e Estatística do Secovi-SP que estima as áreas médias de casas e apartamentos construídos, nesse mesmo período, na Região Metropolitana de São Paulo, com base em seu número de banheiros, estimamos uma área total construída de novos domicílios no país entre 1,4 e 1,97 bilhão de m2 (média de 1,7 bilhão de m2). Se considerarmos que em 2011 e 2012 foram produzidas a mesma média anual do período entre 2000 e 2010, teremos produzido 15 milhões de  novos domicílios entre 2000 e 2012. Aplicando a mesma lógica, obtemos uma área total construída (média) de 2 bilhões de m2 desde 2000.

Essa produção consumiu materiais e gerou resíduos. Afinal há uma infinidade de material envolvido no processo de produção de habitações: aço, cimento, areia, brita etc.  Aplicando os coeficientes de consumo de materiais por m2 de construção, descritos na ABNT NBR 12.721 à área de 2 bilhões de m2, podemos estimar as quantidades de materiais consumidos nesse período. Só para efeito de comparação: se imaginarmos que o maior estádio brasileiro, o Maracanã, pudesse se tornar uma grande caçamba e pudéssemos carregá-lo com areia ou brita, precisaríamos de mil estádios para completar o volume de areia usado na produção das novas moradias, ou 691 “Maracanãs” com brita.

Seguindo o mesmo raciocínio, o aço utilizado seria suficiente para construir 5 mil torres Eiffel, o cimento consumido pesaria o equivalente a 69 pirâmides de Giza, e a tinta usada encheria 1.850 piscinas olímpicas.

Estimativas dos professores Artemária Andrade, Ubiraci Souza, José Paliari e Vahan Agopyan, da Poli-USP, indicam que são produzidos 49,58 quilos de entulho por metro quadrado na construção de edifícios. Multiplicando-se esse coeficiente pela área total construída, verificamos que 100 milhões de toneladas ou 15 pirâmides de entulho foram produzidos no período. Em sua dissertação de mestrado na USP, Dan Moche Schneider identificou que 75% dos resíduos de construção e demolição são destinados de forma irregular ou inadequada.

É importante lembrar que tanto o consumo de materiais quanto a geração de resíduos de demolição e construção são consideravelmente maiores na autoconstrução em relação aos índices obtidos por empresas construtoras, que têm grande zelo e profissionalismo nessa questão, especialmente porque a boa gestão dessa matéria reflete positivamente em sua rentabilidade.

De acordo com o Estudo Prospectivo da Cadeia Produtiva da Construção Civil – Volume 1 – Diagnóstico (2002), 59,50% das unidades habitacionais são autoconstruídas, 9,90% têm gestão e produção estatal e apenas 30,60% são produzidas pela iniciativa privada no País. Dessa última fatia, até hoje apenas um empreendimento residencial concluído foi certificado como sustentável.

Transformar nosso ambiente construído num ambiente mais sustentável exige que a construção profissional cresça em relação à autoconstrução e que os novos projetos incorporem requisitos de sustentabilidade desde a sua concepção. O poder público é agente fundamental nessa equação, pois é ele quem deve liderar e incentivar esse movimento. É o que o governo de Singapura está fazendo, com a aplicação de diversas ações concretas, como o subsídio ao empreendedor para cada novo edifício sustentável, no valor de até U$ 2,4 milhões ou U$ 5 milhões, se o projeto alcançar o maior nível de sustentabilidade ambiental e comprovar 40% de economia de energia e concessão de coeficiente de aproveitamento adicional para novos projetos sustentáveis.

Em 2013, olhamos para os 12 anos passados e constatamos que o ambiente construído em nosso país não é sustentável. Quando fizermos a mesma coisa em 2025, o que veremos dependerá de cada um de nós.

Íntegra do artigo em www.hamiltonleite.com.br/novos_domicilios.pdf.

 

(*) Hamilton de França Leite Junior é diretor de Sustentabilidade do Secovi-SP e da Casoi Desenvolvimento Imobiliário.