“A responsabilidade social pode ser fator determinante para saber se uma empresa é nutritiva ou tóxica com quem se relaciona”. A análise é do diretor-fundador da ONG Canto Cidadão e palestrante, Felipe Mello, feita no terceiro dia da Convenção Secovi (27/9), evento que aconteceu paralelamente ao Salão Imobiliário São Paulo (SISP), no Anhembi, na capital paulista, promovido e organizado pela Reed Exhibitions Alcantara Machado, Secovi-SP e Universidade Secovi. Esses eventos integraram a Semana Imobiliária, durante cinco dias, encerrada em 28/9.
No painel “Como Fazer o Balanço Social de sua Empresa”, coordenado pela presidente do Projeto Ampliar – instituição social que tem apoio logístico do Secovi-SP, Maria Helena Mauad, o especialista palestrou ao lado do diretor-fundador idealista da mesma ONG e palestrante, Roberto Ravagnani. “A empresa tem de estar atenta aos lucros sem perder de vista a sustentabilidade”, observou Ravagnani, ao apresentar o resultado de uma pesquisa realizada com executivos e cidadãos comuns sobre o que é importante para uma empresa.
O estudo relaciona seis itens e, em uma escala dos três principais, a responsabilidade social figura como primeira da lista (59%) para os executivos, seguida da preservação ao meio ambiente (58%) e da boa gestão (45%). No outro grupo, o resultado considera mais importante o desenvolvimento de produtos (33%), solidez e respeito ao meio ambiente empatam na segunda posição (23%), seguidos de respeito e confiança (22%). O saudoso sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, foi citado pelos palestrantes como um dos propagadores, bem antes de sua morte em 1997, da importância do balanço social. “Realizar o balanço social significa uma grande contribuição para a consolidação de uma sociedade verdadeiramente democrática”, dizia Betinho.
Nesse sentido, na França há 31 anos é lei dar publicidade às ações sociais empresariais. No Brasil, essa prestação de contas existe há 24 anos sem ser levada muito a sério. Mas a tendência é de que esse quadro mude para melhor, a partir das exigências já observadas nos consumidores, que têm recorrido a produtos que agregam valores sociais às suas marcas. No quesito da sustentabilidade, o mesmo tem sido sentido na escolha de empreendimentos verdes, os que trazem alternativas de redução no consumo de água, de energia e coleta seletiva do lixo.
Por que fazer o balanço social? “É o cartão de visitas da empresa. Em um primeiro momento, tem a missão de contar o processo de elaboração e dar transparência às ações da empresa”, assinala Mello, que atribui ao governo parte da responsabilidade pela ausência de políticas e iniciativas de incentivo à responsabilidade social de empresas e da sociedade. “O ideal é a empresa praticar essas ações sem focar apenas na mídia, mas envolvendo e estimulando a participação dos funcionários”, assinala Ravagnani.
Há três modelos-padrão de balanço social, ou relatório de sustentabilidade, disponíveis no Brasil, dois nacionais: o do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase – www.ibase.org.br) é pioneiro na formulação dessa ferramenta para micro e pequenas empresas, organizações sociais e institutos; e o do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social – www.ethos.org.br. O outro internacional é sugerido pela Global Reporting Initiative (GRI – www.globalreporting.org), uma rede internacional que elaborou o modelo para relatórios de sustentabilidade mais usado no mundo atualmente. Todos visam a definir as informações mínimas a serem publicadas para dar transparência às atividades da empresa.
Segundo os especialistas, a empresa pode personalizar o relatório de balanço social com formato próprio de acordo com a sua realidade e tamanho, mesmo que não contenham as informações exigidas por nenhum dos modelos-padrão. “Antes de mais nada, de nada adianta a empresa aspirar ser socialmente responsável se não valorizar o público interno”, asseverou Ravagnani. “Mudar é um exercício de cidadania”, complementou Mello, ao concluir com a citação de Indira Ghandi, a primeira mulher a ocupar o cargo de chefe do governo indiano – não tinha parentesco com o Mahatma Gandhi: Existem dois tipos de pessoas: as que fazem o trabalho e as que recebem o crédito. Tente estar no primeiro grupo, tem menos competição aqui”.