Quando a economia norte-americana soluça, o mundo treme. Essa é a conclusão a que chegamos, após a contaminação das bolsas mundiais pela crise financeira dos Estados Unidos. Não é possível evitar os reflexos na economia nacional, inclusive no setor imobiliário. Mas tranqüiliza saber que as conseqüências para o nosso crédito imobiliário serão pequenas; principalmente diante do tamanho da crise, lá fora.
É certo que o aumento da taxa de juros praticada por alguns agentes financeiros amedrontou os empresários. Mas, como vivemos momento de saudável retomada, após praticamente duas décadas de estagnação, o setor se uniu e solicitou, ao governo federal, medidas imediatas para conter a possível retração de um dos segmentos mais capacitados a gerar empregos e a elevar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do brasileiro.
Atravessamos um dos melhores momentos em termos de produção e aquisição de imóveis e contamos com legislação clara, marco regulatório correto e estruturada política macroeconômica. Isto indica segurança nas transações imobiliárias. Os empreendedores brasileiros estão maduros e conscientes de que o setor é responsável, em grande parte, pelo crescimento econômico do País e de que é também indutor do avanço social. Eles são criativos, e nosso sistema regulatório é mais avançado que o norte-americano.
Além disso, há enorme diferença entre o crédito habitacional brasileiro e o mercado de alto risco dos EUA (subprime). Aqui, o financiamento acontece principalmente por meio de agentes financeiros e pouco por companhias hipotecárias. Temos um mercado secundário ainda se instalando para negociar papéis das dívidas dos mutuários.
Outro fato relevante: a demanda por imóveis no Brasil é muito alta. Temos enorme classe média e déficit habitacional de 8 milhões de moradias. Também, os recursos para financiar a produção e a venda vêm do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e do FGTS, com volumes definidos, mais estáveis e baratos, e custos, respectivamente, de 6% e 3%.
Há demanda sólida e o momento permanece propício para a compra do imóvel, principalmente se o adquirente está seguro quanto às suas necessidades de habitação e suas possibilidades financeiras. Porém, temos de imaginar possíveis repercussões negativas, como a diminuição no número de lançamentos, com alguns projetos adiados.
A sociedade e os bancos não devem tomar o mercado apenas pelas poucas empresas do setor listadas na Bolsa, cujas ações sofrem mais os efeitos da crise. Elas representam percentual menor dentro do grande volume de unidades do setor, composto por dezenas de milhares de empresas espalhadas pelo Brasil, a maioria de pequeno e médio porte.
Vamos continuar com projeção de financiamentos de 280 a 300 mil unidades neste ano, pelo SBPE, e de investimento de R$ 11 bilhões, entre financiamentos à habitação popular e descontos para famílias de mais baixa renda, pelo FGTS.
As medidas anunciadas pelo Ministro da Fazenda, Guido Mantega, no dia 29 de outubro, com destaque para a linha de financiamento da Caixa, que vai disponibilizar R$ 3 bilhões, é prova de que o governo confia na capacidade produtiva do setor. Também, que está disposto a ouvir, dialogar e negociar com bom senso. Por isso, aguardamos que o governo federal atenda às demais propostas do setor, como reforço da exigibilidade na aplicação da Poupança e do FGTS pelos agentes diversos, confirmação de volumes de financiamento destas fontes para 2009 e incentivo para que os bancos cumpram as condições oferecidas aos adquirentes, diretamente ou indiretamente, nos plantões de venda.
Agora, cabe a nós, empresários imobiliários, demonstrar maturidade e buscar, sempre, soluções de mercado, repudiando privilégios e a ingerência do governo, em eventuais estatizações. As empresas imobiliárias e seu mercado estão fortes para exercer com independência seu papel de protagonista essencial no fortalecimento de instituições positivas como moradia digna, educação, saúde e segurança da população brasileira.