Animais são vetores de doenças

Ratos, baratas, formigas, moscas, pernilongos, cupins. Desde que o mundo é mundo, esses animais  convivem com o homem. Mas esta nunca foi uma convivência harmoniosa: vetores de doenças, muitas delas fatais, eles ameaçam nosso bem-estar e de nossas famílias. Também causam desconforto com seus zumbidos, picadas doloridas e presenças sempre ameaçadoras. Lutamos contra eles utilizando todos os recursos possíveis, da trivial chinelada aos mais sofisticados produtos químicos. Temos levado vantagem nas batalhas, mas nunca chegamos perto de vencer a guerra. Por isso, não podemos baixar a retaguarda. Cuidados, prevenção e combate constante e consistente são nossas armas contra esses “inimigos íntimos”.

Nessa luta no âmbito dos condomínios, cabe aos síndicos desempenharem o papel de “generais inteligentes” – isto é, do tipo que não menospreza a grandeza do oponente. Cupins, por exemplo, se dividem em diferentes tipos e todos eles são muito bem organizados. “A subespécie mais feroz é a dos coptotermes, também chamados de cupins subterrâneos”, explica José Aparecido Soares de Campos, diretor comercial da Desintec, empresa especializada em controle de pragas.

“Eles vivem em sociedade, de maneira extremamente organizada. São muito sensíveis à luz, por isso formam seus ninhos no solo ou em locais escuros e protegidos. Para obterem seu alimento, que é a celulose, são capazes de perfurar qualquer material, inclusive concreto”, informa, acrescentando que, por este motivo, muita gente se equivoca pensando que os coptotermes “comem” cimento, quando na verdade todos os tipos de cupins se alimentam a partir da madeira. “O que os operários e soldados fazem é um trabalho em equipe. Um regurgita a celulose conseguida para o outro, até que o alimento chegue à rainha. Esta produz 6 mil ovos por ano e chega a viver 30 anos”, adiciona Campos, lembrando que, além da pulverização de produtos para eliminar os adultos, pode ser necessária a aplicação de larvicidas.

Com inimigos tão poderosos, o condomínio não pode falhar. “Nem a mais benfeita das dedetizações acaba de vez com todos os insetos se os problemas estruturais não forem resolvidos”, esclarece Anderson Aparecido Gonçalves de Jesus, gerente operacional da Júpiter, empresa que, além do combate às pragas, realiza trabalhos como o de desentupimento e limpeza de tanques. “Os produtos matam 100% das pragas que infestam o local e criam uma barreira química, mas poderá haver reinfestação se não forem solucionados problemas como os buracos nas paredes pelos quais vêm as formigas e as tampas de caixas de inspeção que servem de acesso às baratas”, garante o executivo.

Empresas sérias – Perigosas também são as empresas que operam irregularmente no ramo. “Existem cerca de duas mil empresas atuando na área, e só 5% são regulares”, revela Campos, da Desintec. O biólogo Sérgio Bocalini, vice-presidente executivo da Associação dos Controladores de Vetores e Pragas Urbanas (Aprag), é taxativo: “Os prédios devem se preocupar em contratar empresas controladoras de pragas legalizadas. A companhia deve possuir licença de funcionamento expedida pela Vigilância Sanitária, manter um técnico responsável, que pode ser um biólogo, engenheiro agrônomo, engenheiro florestal, veterinário, químico ou farmacêutico, e estar com a empresa registrada junto ao conselho a que pertence o técnico responsável.”

Bocalini é categórico ao afirmar que, de forma alguma, o síndico pode contratar pessoas físicas ou empresas não regulamentadas e não qualificadas tecnicamente. “O uso de zeladores, porteiros e outros funcionários para realizar o autosserviço deve ser abolido. Esse tipo de situação pode levar a sérios problemas de intoxicação tanto da pessoa que faz a aplicação quanto de moradores ou funcionários ali presentes”, previne. Além disso, a utilização de produtos proibidos ou fracos demais, que simplesmente não vão produzir o efeito esperado, resultará em um gasto inútil para o condomínio. E os venenos de iscas, colocados sem critério profissional correto, podem colocar em risco a integridade de crianças e animais de estimação. “Isto sem falar que, futuramente, esses profissionais poderão mover ações trabalhistas devido ao desvio de função”, observa Nalini.

Combates – Um dos temas campeões no acionamento de empresas de combate a pragas é a desratização. Segundo Campos, da Desintec, os ratos de menor porte são os camundongos, que geralmente montam seus ninhos em locais de difícil acesso e perto de onde há alimentos disponíveis – geralmente, grãos. “Um camundongo vive em média 12 meses e seu raio de ação é de 3 a 5 metros”, ensina. Muito mais assustadora e perigosa é a ratazana, que chega a ter 600 gramas de peso e mora em lixões, galerias, subsolos. Cava tocas no solo, alimenta-se de grãos, carnes, frutas e legumes, vive o dobro do tempo de um camundongo e é excelente nadadora. “Quando ocorrem inundações, a ratazana sai nadando e urina. É aí que surgem doenças, como a leptospirose”, prossegue Campos, que alerta: o raio de ação da poderosa roedora pode chegar a 50 metros.

Mais comum na zona rural do que nas grandes cidades, o rato de telhado, ou rato preto, é um hábil escalador, que desce para buscar alimentos e logo retorna para o esconderijo. “O combate a ratos é feito por meio da colocação de iscas”, relata.

A “guerra às baratas”, por sua vez, é tão intensa e constante quanto o combate às formigas. “Tem gente que subestima os riscos acarretados pelas formigas”, constata Gonçalves de Jesus, da Júpiter. “Mas elas carregam nas patinhas os patógenos causadores de doenças. Certa vez, inspecionamos um restaurante que tinha furos na parede da cozinha. Era por eles que as formigas entravam – e vinham de um foco situado atrás do cestinho do banheiro”, relata.

Conforme o gerente operacional, é por isso que o síndico pode e deve levar muito a sério todas as orientações preventivas passadas pelo técnico da empresa controladora. Ele descreve a atividade desse profissional, que em sua primeira visita faz um diagnóstico do ambiente, detecta se existem rachaduras, depósitos de água, esgoto a céu aberto e tampas de caixa d’água em mau estado, dentre outras coisas. Depois, sugere providências, inclusive para corrigir os problemas. “Os resultados são muito mais satisfatórios quando a administração do condomínio segue essas orientações”, informa, acrescentando que não adianta focar só no controle químico.

Dicas importantes

  • Dedetização e desratização são procedimentos seguros se forem feitos por uma empresa de confiança. Desde a época do DDT, que foi um grande mal, o mercado químico vem trabalhando em produtos que são altamente voláteis diante da luz ultravioleta (isto é, rapidamente degradáveis mediante a exposição ao sol). A ideia é não saturar o ambiente com o produto. Ele tem uma dose letal, mas é seguro se fossem obedecidas regras de segurança, como deixar o ambiente livre de pessoas e animais por um determinado tempo.
  • Dedetização preventiva: mesmo sem infestação de pragas, o condomínio pode e deve providenciar a dedetização semestralmente. E, durante a vigência da garantia (normalmente, de 3 meses), pode-se chamar a controladora para eventuais reforços.
  • Barata é questão de saneamento. Num prédio em que o tratamento preventivo não é feito, as baratas buscam abrigo nas áreas comuns do condomínio.
  • O uso de óleo de citronela nas áreas comuns do edifício, ou mesmo a manutenção de vasos com citronela plantada, ajudam a manter distantes pernilongos e mosquitos, incluindo o Aedes Aegipty, o grande vilão causador da dengue.
  • Ao contratar uma empresa controladora, o consumidor/síndico deve sempre solicitar a proposta por escrito, contendo os métodos de tratamento, produtos utilizados e garantias. É importante pedir ao fornecedor que apresente os comprovantes de treinamento dos funcionários que irão executar a atividade de controle de pragas.
  • O cliente pode consultar a lista de empresas associadas no site da Aprag (www.aprag.com.br).

Reportagem publicada na Revista Secovi-SP (2013). A reprodução do conteúdo é permitida, desde que citada a fonte.