Num processo que teve sua origem na década de 1960, o centro tradicional paulistano sofreu profundas transformações, deixando de ser o único pólo concentrador de negócios. O mercado imobiliário expandiu-se por meio da incorporação de novas áreas, com uma migração progressiva para outras regiões da cidade. Criando novas concentrações de atividades comerciais, o centro de negócios migrou, primeiramente para Avenida Paulista e depois para Faria Lima, Berrini e Marginal Pinheiros. Paralelo às mudanças de localização de negócios, comércio e serviços de alto padrão, consolidaram-se novos bairros de moradia para as classes altas e médias, que, também progressivamente, foram deixando a área central.

A partir dos anos 1980, agravou-se a tendência de desvalorização dos imóveis do Centro e, apesar da substituição de usos, muitos deles, especialmente salas comerciais e escritórios, ficaram vazios. Com isso, houve também importante perda de população. Só nos últimos 20 anos, a região central – considerando os oito distritos da Subprefeitura da Sé – perdeu, aproximadamente, 230 mil moradores, o que equivale a 30% da sua população.

Portanto, é estratégico, para o sucesso efetivo de qualquer programa de requalificação, o fortalecimento do uso do Centro como local de moradia. Além de abrir boas oportunidades para o desenvolvimento de políticas habitacionais, os efeitos mais interessantes estão no impacto gerado na dinâmica social da área.

O aumento do número de residentes ali pode propiciar o desenvolvimento de novas sociabilidades, aumentando o uso das ruas e a freqüência a lugares públicos. Significará ampliação do horário em que as pessoas circulam pelas ruas, desatrelado ao horário comercial, possibilitando o desenvolvimento de outros serviços e a diminuição da sensação de insegurança para quem anda à noite.

A fixação de moradores também pode se refletir no aquecimento do comércio local e na criação de público para as atividades culturais existentes. Para a capital paulistana, o aumento da moradia no Centro traria as vantagens de diminuir a demanda por transporte, otimizar os serviços urbanos já instalados e ter efeitos sobre a desaceleração da expansão da cidade. Para tudo isso, é fundamental a união de esforços da iniciativa privada, do governo e da sociedade civil.