“A palavra impossível não consta do dicionário dos líderes. Não importa quão grandes os desafios, fé, determinação e decisão irão superá-los.” Com este mote, o líder do bem-sucedido emirado de Dubai, Sheik Mohammed bin Rashid Al Makthoum, transformou uma faixa de areia, castigada por enormes variações de temperatura e ventos inclementes, num dos maiores exemplos de progresso mundial neste início de século. O sucesso se torna mais significativo ainda se consideramos os históricos conflitos de países vizinhos como Iêmen, Irã, Iraque, Arábia Saudita.
Há 40 anos, Dubai, segunda cidade dos Emirados Árabes Unidos, vivia sua modorrenta existência de forma quase tribal. Foi então concebido plano estratégico de desenvolvimento para a região e 70 km de costa natural transformaram-se em 1.200 km. É certo que a exploração do petróleo contribuiu para isso, apesar de ser hoje de apenas 5% do PIB.
Para quem chega a Dubai, ousadia é a primeira palavra que vem à mente, a começar pelo imenso aeroporto que, apesar de ser um dos maiores do mundo, será substituído por outro com capacidade bem superior a qualquer outro. Edifícios suntuosos, residenciais e comerciais, condomínios de vilas, shopping centers, universidades, campos de golfe, rodovias, indústrias e portos onde antes existia apenas areia são exemplos do que já foi implantado e ainda vem por aí.
Uma característica que chama atenção é o grande adensamento entre as edificações, que se iguala mais ao de Manhattan, em Nova York, do que ao das metrópoles brasileiras, seguindo assim a tendência mundial. Em Dubai, não há preconceitos quanto à ocupação do solo – nem quanto à criação artificial de terrenos. As regras urbanísticas são claras e respeitadas, ou seja, projetos imobiliários encaminhados para aprovação são analisados em prazos legais sempre cumpridos e submetidos às legislações vigentes, que não são alteradas diuturnamente. Todo empreendimento aprovado é finalizado: há segurança jurídica, diferentemente do Brasil, onde a legislação urbanística caminha na contramão da história, da modernidade e das tendências mundiais.
E as diferenças entre Dubai e nosso país não param por aí. Existe um ambicioso master plan de longo prazo para o desenvolvimento do emirado, seguido à risca, independente de quão gigantesco seja o novo empreendimento. O famoso Burj Dubai, que será o maior edifício do mundo, por exemplo, terá uso misto: um hotel nos primeiros andares, apartamentos residenciais nos intermediários e escritórios nos superiores. Não há divulgação do número de andares nem da altura do prédio, mas ela será superior a 700 m. As obras já ultrapassaram a 140ª laje, num terreno de um milhão de m².
O Burj Dubai foi comercializado em 48 horas, com preço médio de US$ 7.000 o m². Outros empreendimentos foram comercializados a velocidade semelhante. Nos últimos cinco anos, 150 mil unidades residenciais foram incorporadas em Dubai. Os compradores são, na grande maioria, estrangeiros em busca de segunda ou terceira residência ou que querem instalar sua empresa. Hoje, são 40 mil quartos de hotéis em funcionamento, com taxa de ocupação de 97%. Outros 45 mil estão em construção. No prazo de dois anos, o emirado terá capacidade hoteleira superior à de Paris.
Essa estratégia de desenvolvimento pode ser resumida no seguinte fundamento de um dos maiores incorporadores locais: ‘A uma distância de três horas de vôo da cidade, vivem dois bilhões de pessoas em três continentes. Desejamos ser o centro de negócios e lazer de toda esta população.
Não houve hesitação quando do planejamento e da construção da Palm Island, um conjunto de ilhas artificiais erguido nas águas do Golfo Pérsico. O conjunto de empreendimentos residenciais, comerciais e hoteleiros terá cerca de 12 mil unidades e abrigará 65 mil pessoas. Dois outros conjuntos de ilhas estão sendo implantados no Golfo. No The World, cada ilha terá o formato de um país, e um conjunto delas representará um poema escrito em árabe. Deira Island, o projeto mais ambicioso, concentrará população de um milhão de habitantes.
Praticamente não há água doce. Os índices pluviométricos são muito baixos: 93% da água vêm de usinas de dessalinização. Isso tudo nos leva a pensar: se o Brasil contasse com um pouco mais dessa ambição, talvez estivesse melhor colocado no ranking de desenvolvimento. No mínimo, não teríamos de conviver com o brutal déficit habitacional de oito milhões de moradias.