Considerado um “tema apaixonante” pela palestrante Ana Carla Fonseca, professora da Fundação Getúlio Vargas e fundadora da consultoria Garimpo de Soluções, a Convenção Secovi colocou em debate nesta segunda-feira, 27/8, a economia criativa, a legislação urbana e os negócios imobiliários. A especialista dividiu o palco com Claudio Bernardes, presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP e do Conselho de Gestão da secretaria municipal de Urbanismo e Licenciamento, e Ricardo Yazbek, vice-presidente de Assuntos Legislativos e Urbanismo Metropolitano do Sindicato da Habitação.
De acordo com explicação de Ana Carla, as tecnologias digitais transformaram a vida das cidades de forma rápida e, com ela, a relação de trabalho e as formas de produção, que ainda sofrerão inúmeras influências dessa nova ordem. “De forma simples, ela vai se basear no uso da criatividade na geração de produtos diferenciados em termos tecnológicos e de design”, disse. Como exemplos, ela citou um hotel na cidade de Porto, em Portugal, cujos quartos minimalistas oferecem, nas paredes, trechos de contos de escritores portugueses, a marca brasileira Insecta Shoes, que oferece sapatos veganos, e as entregas de produtos feitas por bicicletas.
“As habilidades do futuro são as habilidades do presente, que se não forem praticadas, ficarão atrofiadas, como a música e a linguagem”, ressaltou Ana Carla, para quem é um risco delegar à inteligência artificial determinadas atribuições, como se guiar pela cidade somente com o uso de aplicativos que ditam o caminho de deslocamento de um lugar para o outro. “Isso cria dependência e as cidades são aliadas da economia criativa.”
De acordo com ela, a inteligência artificial deve ser usada para criar boas conexões, estimular a cultura, que é o espírito da cidade, e inovar, por meio de startups. Ana Carla citou exemplos interesses que atendem a essas três dimensões. O primeiro deles foi da Amazon, que abriu edital de concorrência para instalação de sua segunda sede física. As cidades interessadas devem atender a inúmeros requisitos, como capacidade de estimular o talento das pessoas, a cultura, a diversidade, a governança, a sustentabilidade, a conectividade e o uso de sistemas multimodais. “Amazon é uma empresa digital que percebeu a importância de se relacionar fisicamente com as pessoas.”
Outro exemplo interessante apresentado por Ana Carla foi de uma startup chinesa que criou colheres comestíveis que, ao mesmo tempo em que combatem o acúmulo de plástico no meio ambiente, diminuem a desnutrição. A professora falou, ainda, das medidas adotadas em Medelín, segunda maior cidade colombiana, como a transformação de um lixão em área de lazer, e a instalação de uma escada rolante em uma comunidade, em substituição à uma escada com 350 degraus, proporcionando qualidade de vida aos moradores.
Claudio Bernardes falou da relação entre economia criativa e legislação urbana e destacou a necessidade da existência de três plataformas para que ela ocorra: conectividade, ambiência cultural e inovação. Lembrou que no Plano Diretor Estratégico de São Paulo foram definidos polos de economia criativa no seu artigo 185. “Porém, faltam estratégias de planejamento urbano para instalar esses polos. Deve-se preparar o espaço urbano para acomodar a indústria criativa de forma correta”, disse Bernardes, completando que é necessário responder a três perguntas antes de qualquer coisa: Existem os espaços? Eles são atrativos? Como essas mudanças se relacionam com a distribuição espacial?
Esses polos de economia criativa são capazes, conforme Bernardes, de aumentar a produtividade e o compartilhamento, estimular a inovação e a implantação de novas empresas, gerando economia em escala. “A indústria criativa possui um ecossistema complexo e a legislação urbana tem de administrar conflitos com o parque industrial existente”, disse o dirigente do Secovi-SP.
Ricardo Yazbek destacou a impressionante transformação da cidade de Dubai, nos Emirados Árabes, que, com planejamento e visão futura de longo prazo, está se preparando para a Expo 2020, e trouxe o exemplo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, que está desenvolvendo muitas pesquisas com o grafeno, forma cristalina do carbono, e seus múltiplos usos.
A Convenção Secovi tem o patrocínio da Atlas Schindler, Intelbras, Porto Seguro, Apemip, OLX e SegImob.
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