Profissionais de diferentes formações enriquecem o ambiente das
imobiliárias

Uma equipe de vendas formada por profissionais das mais diversas carreiras é realidade de poucas  empresas, inclusive as imobiliárias. Advogados, engenheiros, arquitetos, economistas, professores, pessoas dos variados ramos da administração e até mesmo médicos podem somar esforços para o alcance de um objetivo comum: compra, venda e locação de imóveis residenciais e comerciais.

A multidisciplinaridade dos times de corretagem de imóveis é corroborada por números do Creci-SP (Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo). Segundo a entidade, 60% daqueles que ingressam na profissão migram de outras carreiras. “Dentre os demais, 10% são corretores há algum tempo e estão buscando se regularizar perante o Creci para obter a licença de exercício da profissão; e 30% são jovens que optaram pela corretagem como primeira profissão”, afirma Sílvio Gonçalves, membro do Conselho de Ética do Creci-SP (Cefisp).

Os números são apurados com base nos formulários preenchidos pelos alunos do curso de Técnico em Transações Imobiliárias (TTI) oferecido pelo Creci-SP – obrigatório para a obtenção da carteirinha do Conselho.

“Esses perfis variados de profissionais trazem ao nosso mercado uma boa diversidade”, avalia Gonzalo Fernandez, sócio-diretor da imobiliária Fernandez Mera. Não é difícil supor a razão, já que a atividade de intermediação requer uma gama de conhecimentos que transita em várias áreas.

A localização do imóvel pode demandar explicações de leis de zoneamento; apresentação e descrição do produto; negociação dos interesses do comprador e do vendedor; elaboração do contrato; entre outros aspectos que são afeitos a profissionais de arquitetura e urbanismo, designers, engenheiros, contadores e advogados. Adentrando nos meandros de captação, divulgação, estratégias digitais e anúncios, já se abrem mais portas para pessoas de comunicação (texto, vídeo e imagem).

Ângelo Frias Neto: de engenheiro a diretor de uma das maiores
imobiliárias do interior paulista

Ângelo Frias Neto, diretor presidente da Frias Neto Consultoria em Imóveis, de Piracicaba, diz que a possibilidade de mais ganhos financeiros e autonomia estão entre os chamarizes da carreira. “Muitas vezes, as pessoas buscam por uma outra identificação em determinado momento de suas carreiras. Querem ser movidas a desafios, se arriscar mais. Ser corretor é lidar com isso tudo no dia a dia. É uma profissão bastante meritocrática”, afirma. Por sinal, o próprio Frias Neto deixou de lado a carreira de engenheiro para enveredar pela intermediação imobiliária.

Nesse aspecto, um dos pontos de atenção são pessoas que acabam, literalmente, caindo de paraquedas na corretagem. “Para muita gente, virar corretor é uma coisa que acaba acontecendo, por desemprego, por exemplo. Geralmente, muitos não chegam à profissão com um planejamento”, destaca Renato Lobo, vice-presidente de Operações da Brasil Brokers.

Falta de renda fixa, despesas com transporte e alimentação e imprevisibilidade são fatores inerentes a quem ingressa na profissão de corretor. Eis a razão pela qual o planejamento, antes de ingressar na carreira, se faz necessário. “É preciso ter autodisciplina”, lembra Frias Neto, acrescentando que, não raro, o corretor vende um apartamento hoje e só vai conseguir concretizar outro negócio depois de meses.

Há, ainda, aqueles que veem na oportunidade de ser corretor um mero “bico”. É um problema quando as pessoas tentam conciliar a carreira de corretor com outra profissão. Muita gente acha que é possível se dedicar a um afazer durante a semana e, aos sábados e domingos, virar corretor. Como flexibilidade e autonomia são pontos fortes da profissão, muitos acabam se utilizando ao máximo dessas prerrogativas, pondo à margem os pressupostos para uma carreira bem-sucedida.

O filtro profissional da corretagem costuma ser assertivo. No ano de 2010, por exemplo, quando o setor imobiliário estava efervescente – vendas e lançamentos nas alturas –, um sem-número de pessoas migrou para a corretagem. “A gente costuma brincar que, naquela época, o corretor não fazia a venda, mas ‘sofria’ a venda”, diz Lobo, da Brasil Brokers. De lá para cá, muitas coisas mudaram – desde a forma de captação do cliente e do imóvel até o ritmo dos negócios.

Quem embarcou na corretagem apenas surfar na boa onda acabou não sobrevivendo. É uma carreira que exige dedicação, não é para quem quer carona.

Hoje, mesmo que sob outras circunstâncias – políticas e econômicas –, tornar-se corretor de imóveis ainda é atrativo para muitas pessoas. De acordo com o Secovi-SP, a retomada da economia deve impulsionar o mercado de imóveis em todas as suas franjas – compra, venda e locação –, o que demandará mais corretores. “E, para as empresas, esses profissionais de outras áreas são bem-vindos, por trazerem mais expertise e qualificação”, diz Silvio Gonçalves.

Reportagem de Leandro Vieira publicada na edição 287 (novembro de 2017) da Revista Secovi-SP. É permitida a reprodução total ou parcial do conteúdo, desde que citada a fonte.