Com planejamento urbano, IAGeo poderia cumprir os objetivos da política de desenvolvimento de uma cidade inteligente
O processo de Inteligência Artificial Geoespacial (IAGeo) pode ser definido como um modelo que alia o planejamento urbano aos sistemas de georreferenciamento, “Big Data” e TI ( tecnologia da informação).
Na área de planejamento urbano, pesquisadores americanos identificaram como premissa básica para a utilização desse processo a busca por quatro objetivos, relativamente abrangentes: 1) aumentar a eficiência dos serviços e funções urbanas; 2) melhorar a qualidade de vida de todos os cidadãos; 3) abordar os desafios ecológicos e econômicos, que podem afetar os sistemas urbanos em diferentes níveis; e, 4) contribuir para a produção de dados espaciais, informações e conhecimento sobre a dinâmica humano-urbana.
Dessa forma, com uma estrutura conceitual centrada no ser humano, é possível supor que a polinização cruzada entre o planejamento urbano e os campos tecnocientíficos que estruturam a Inteligência Artificial Geoespacial, poderia cumprir os objetivos da política de desenvolvimento de uma cidade inteligente.
As cidades inteligentes prosperam a partir da integração de camadas físicas e digitais da infraestrutura. Portanto, a IAGeo poderia servir como potencial estrutura de solução para abordar os problemas geoespaciais multifacetados enfrentados pelas cidades inteligentes. De fato, a complexidade dos problemas exige uma abordagem híbrida que integre tanto metodologias indutivas quanto dedutivas.
Entretanto, fica a questão: como será possível ativar e operacionalizar a potencialidade da IAGeo para criar lugares e comunidades sustentáveis, resilientes, equitativas, saudáveis e conectadas?
Parece ser importante abordar esta questão sob o prisma do planejamento urbano, e trazer a disciplina de planejamento de volta para a cidade inteligente. Os conceitos de planejamento que costumavam ocupar uma posição central na concepção inicial da cidade inteligente foram, de certa forma, relegados a um segundo plano com o surgimento de tecnologias inteligentes e seus subprodutos associados, como automação, eficiência e padronização, entre outros.
Melhorar a eficiência das funções e dos serviços urbanos é um problema técnico que tem sido tradicionalmente um dos principais objetivos do planejamento e da gestão urbana. Serviços e funções urbanos incluem todas as comodidades, instalações e infraestruturas que órgãos governamentais, de forma independente ou em colaboração com entidades privadas, entregam aos moradores urbanos. Entre essas funções e serviços urbanos, estão abastecimento de água, coleta de esgoto, transporte público, operação de espaços públicos e disponibilização de habitações a preços acessíveis.
Enfim, o funcionamento das cidades requer abordagens que considerem o desenho urbano e práticas que possam afetar a sua configuração espacial, o bem-estar das pessoas e como elas vivenciam o ambiente construído. A IAGeo pode ser utilizada para melhorar a habitabilidade e a equidade urbana, possibilitando a associação entre parâmetros subjetivos da vida nas cidades e a estrutura socioespacial do ambiente urbano.
Nesse contexto, o gerenciamento do uso do solo é um dos principais mecanismos do planejamento urbano, e tem implicações significativas para a economia, para a sociedade e para o meio ambiente. A IAGeo pode propor novas abordagens de otimização espacial para apoiar a alocação de modelos que impliquem no uso sustentável do solo, como contiguidade, compacidade e compatibilidade com padrões multiobjetivos de otimização, utilizando os algoritmos adequados. Isso possibilita a formulação de modelos espaço-temporais, que podem otimizar não apenas a localização e a definição quantitativa de uma categoria de uso do solo a ser atribuída a determinado local, mas também “quando” e “como” eventual transição para metas específicas relacionadas ao uso do solo deve acontecer ao longo do tempo.
Não menos importante é a possibilidade de gerar novas visões sobre a dinâmica humano-urbana por meio de monitoramento, análise e modelagem da morfologia urbana. Utilizando dados de crowdsourcing, esses estudos podem estruturar uma abordagem de baixo para cima, possibilitando a reconstrução de espaços da vida cotidiana, com repercussões importantes para o desenvolvimento das cidades.
As aplicações são inúmeras e o resultados promissores. Falta, entretanto, decisão política para caminhar nessa direção. Com a palavra, os gestores das cidades!
Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário*
*Artigo publicado na edição de sexta-feira, 27/10, na Folha Online – colunas e blogs