Como protagonistas do mercado imobiliário, certamente temos orgulho e prazer naquilo que realizamos. Partir de uma folha em branco – nesse caso, um terreno – e trazer à existência algo concreto (literalmente), é desafiador e gratificante.
Porém nossas responsabilidades socioambientais são grandes. As construções consomem 75% de todos os recursos naturais produzidos no planeta. E na fase de concepção e projeto estão as maiores possibilidades para tornar um empreendimento verdadeiramente sustentável. E são etapas que representam apenas 1% do custo total do ciclo de vida de uma edificação. Durante os primeiros 50 anos de uso e manutenção, são consumidos 80% desses recursos.
Até bem pouco tempo, fazíamos nosso trabalho sem ponderar como ele poderia afetar o meio ambiente e a realidade social ao redor, e poucos consideravam a ideia de aplicar ações socioambientais aos negócios. No máximo, como cidadãos, sabíamos que deveríamos economizar água, reciclar lixo etc. Quase nada, se comparado aos impactos (positivos ou negativos) que podemos causar na sociedade, no patrimônio histórico-cultural e no planeta, com o desenvolvimento imobiliário.
Mas hoje está cada vez mais claro que também precisamos considerar aquelas necessidades circunvizinhas, relacionadas à cidade e às comunidades do entorno onde desenvolvemos nossos projetos, principalmente perante as populações de baixa renda.
É certo que o poder público tem grande responsabilidade nesse assunto, que devemos expor e demandar aos agentes governamentais respostas, além de combatermos arduamente qualquer tipo de corrupção.
Contudo, não podemos apenas transferir a responsabilidade e nos isentar de agir dentro das inúmeras possibilidades que temos.
Por exemplo, em vez de construir muros altos com cercas elétricas, deveríamos aplicar esses mesmos recursos no desenvolvimento das comunidades carentes próximas e provavelmente teríamos retornos muito melhores. Trocaríamos relações de conflito por parcerias duradouras.
Sabemos que qualquer ação empresarial deve estar alicerçada na viabilidade econômica. No entanto, a mesma criatividade empreendedora que nos coloca à frente dos nossos negócios pode ser bastante promissora para agregar tecnologias e ações sustentáveis nas empresas, nos empreendimentos e em nossas atitudes profissionais e incorporar valores intangíveis, éticos e compromissados socialmente.
Mesmo que o desenvolvimento sustentável requeira investimentos, devemos começar a considerar a substituição do Lucro Máximo, orientado apenas pelos resultados financeiros demandados pelos acionistas (mesmo que isto signifique sacrificar a implantação de políticas de sustentabilidade), pelo conceito de Lucro Ótimo.
Este é o que leva em conta não apenas as metas e os objetivos de uma empresa para com seus sócios, mas traduz sua visão ética perante todas as partes interessadas (stakeholders), a qual passa a declarar expressamente sua determinação em colaborar na manutenção daquilo que é recurso indispensável a todos: a vida como herança de nossa geração para as que virão adiante.
O Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi/SP) desenvolve um programa de sustentabilidade que tem por objetivo conscientizar e auxiliar seus associados a pensar de forma promissora neste desafio do presente século. Um caminho para quem deseja perseguir esse objetivo é estabelecer relacionamentos profícuos com ONGs, cujas atividades sejam sinérgicas com os objetivos de sustentabilidade definidos pela empresa e que atuem dentro das fronteiras de seu negócio.
Tais parcerias com o Terceiro Setor poderão trazer muitos benefícios para a comunidade, para seus clientes, funcionários, para a empresa e para o dia-a-dia nos condomínios.
A velocidade de degradação das condições de vida no planeta, principalmente pelo uso despreocupado de seus recursos, alterações climáticas seriíssimas e desigualdades sociais gritantes, reclama uma aceleração nas decisões e implementação de soluções que tornem viáveis não apenas a existência digna do animal humano, mas de toda a forma de vida, pois nossos filhos e netos serão os herdeiros e os verdadeiros prejudicados (ou beneficiados) pelas consequências das ações que tomamos hoje.