O mais importante evento anual da Federação Internacional das Profissões Imobiliárias, o Congresso Mundial da Fiabci, aconteceu em Amsterdã, Holanda, de 29 a 31/5, abordando o tema “Água: ameaças, oportunidades e possibilidades”.

O capítulo brasileiro da entidade, a Fiabci/Brasil, presidida por Ricardo Yazbek, levou expressiva delegação, que antes do evento seguiu em missão empresarial à Rússia e à Suécia.

O presidente do Secovi-SP, João Crestana, representou o Brasil no dia 30/5, e apresentou palestra sobre as condições atuais do mercado imobiliário brasileiro, com ênfase na cidade de São Paulo. “Sempre que um grupo de diretores do Secovi parte em missões internacionais, carrega o compromisso de fortalecer ainda mais o nome da entidade. No exterior, quando se fala de mercado imobiliário, fala-se do Secovi”, ressalta Crestana.

Além de integrar o Congresso, a missão de líderes empresariais tinha uma série de outras metas. Uma delas era acompanhar o Prix d Excellence – a maior premiação internacional do setor. Nesta edição, dois empreendimentos brasileiros vencedores da edição 2007 do Prêmio Master Imobiliário foram agraciados com o prêmio internacional. O Jequiti – Resort Residence, da Sisan Empreendimentos Imobiliários, ganhou como Resort e o Rochaverá Corporate Towers, da Tishman Speyer Properties, foi o primeiro case premiado na recém-criada categoria Projeto Sustentável.

Além dessa cerimônia de reconhecimento ao empreendedorismo brasileiro, o presidente da Fiabci/Brasil e vice-presidente do Secovi-SP, Ricardo Yazbek, assumiu a presidência da Fiabci Mundial para as Américas e Basilio Jafet (também vice-presidente do Sindicato) foi efetivado na vice-presidência do Conselho dos Principal Members da entidade internacional.

A participação brasileira ganhou destaque ainda maior com a vitória da estudante do 3º ano do curso de Cinema da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), Alice Fanny Riff, no 1º Festival Internacional do Filme Ambiental, com o curta-metragem “H2O?”, sobre as condições do rio Tietê. “Causa vergonha para a população paulistana as condições dos rios que cortam a cidade, mas por pior que seja a realidade é melhor conhecê-la”, ressalta Crestana.

Flávio Gonzaga Bellegarde Nunes, diretor do capítulo brasileiro da entidade e presidente do Comitê de Legislação e Meio Ambiente da Fiabci Mundial, recebeu do presidente da entidade, Julian Josephs, a Medalha de Honra por seu trabalho em prol da sustentabilidade.

Missão empresarial – Antes de participar dessas inúmeras atividades do Congresso Mundial da Fiabci, o presidente do Secovi-SP e os demais líderes visitaram dois importantes, e antagônicos, países: Rússia e Suécia.

Na Rússia, percorreram Moscou e São Petersburgo, localidades onde os governos estão retomando alguns conceitos do regime capitalista, tal como o de propriedade. “Pudemos enxergar as diferenças entre um país que viveu décadas sob o socialismo e outro, a Suécia, com muita eqüidade social e econômica”, compara Crestana, completando que os jovens repudiam o comunismo, apesar de movimentos isolados pedirem a volta do regime. ”Claramente, o país inteiro prepara-se para o capitalismo. Não se presencia miséria nas ruas, mas sim uma população bastante pobre sujeita a um elevado custo de vida. Nota-se a necessidade de resgatar a cidadania”, arrisca Crestana.

Com a abertura política, muitos bens e patrimônios públicos foram privatizados rapidamente, de maneira até súbita, levando pequenos grupos de empresários a concentrar renda, explica o dirigente, para quem o governo atual de Dimitri Medvedev será capaz de sanear o país. “Ele é um exemplo de trabalho e rigidez.”

Crestana conta que estavam programadas duas visitas a construtoras: à multinacional Hines e a uma outra empresa Russa, responável pelas obras do Federacion Tower. No primeiro evento, a missão empresarial brasileira foi muito bem recebida pela área comercial da empresa, e o CEO da Hines fez interessante apresentação sobre a Rússia, mostrando o crescimento e as perspectivas imobiliárias no país.

“Ainda há dificuldade de enxergar as características e vantagens da propriedade”, diz o presidente do Secovi-SP. Já a visita coordenada pelos russos, marcada com mais de dois meses de antecedência, foi cancelada às vesperas, sem grandes esclarecimentos ou justificativas. “Ainda percebe-se autoritarismo e medo na Rússia, mas ainda assim o país atravessa momento interessante.”

Oportunidades – De Moscou, a missão empresarial seguiu, em trem simples, para São Petersburgo. Cidade tradicional, com prédios antigos, a atividade imobiliário é bastante presente, mas a qualidade dos empreendimentos é muito precária. “O hall dos apartamentos condiz com a entrada de serviço dos empreendimentos brasileiros. Eles não têm a nossa sofisticação e tecnologia construtiva”, ressalta o presidente do Secovi-SP.

Na avaliação do dirigente, as empresas brasileiras podem ajudar os russos na engenharia, tecnologia e no marketing. “Oportunidades para projetistas, publicitários e profissionais de tecnologia construtiva. Como os prédios e as unidades eram compartilhadas por diversas famílias, a população está ressentida. Os empreendimentos eram verdadeiros caixotes”, conta Crestana. Em razão dessa cultura, o preço do metro quadrado nas cidades russas é bastante alto.

Para os interessados em investir na região, Crestana dá a dica: “É preciso ter jogo de cintura e serenidade para uma exploração politicamente viável”.

Banco de terras – Situada entre ilhas e lagos, a Suécia tem seu desenvolvimento imobiliário fora do centro de Estocolmo, capital do país, mas preserva rigidamente a cultura arquitetônica milenar. O prédio sede do parlamento municipal, por exemplo, foi construído no início do século 20, mais precisamente na década de 1920, mas com características do século 17. “Há grande valorização das tradições históricas e diferentemente da Rússia, o mercado é de livre iniciativa, o que permitiu a ascensão social, com deslocamente das camadas mais baixas da economia para o topo da pirâmide. Na Suécia, aproveitou-se o conhecimento dos ricos para expandir as condições dos mais pobres. Hoje, o país é formado por uma imensa classe média alta, com padrões educacionais, financeiros, econômicos, sociais e culturais igualitários”, ressalta Crestana.

Ao contrário do que acontece no Brasil, a carga tributária é equilibrada e justa – em torno de 30% a 35% sobre os rendimentos –, fato que leva a sociedade a contribuir com o governo com satisfação, pois há a certeza de que a arrecadação será revertida em benefícios públicos aos cidadãos – saúde, tranporte, educação e segurança. “Em nosso país, pagamos para o governo e para a inciativa privada, pois as iniciativas públicas são insatisfatórias”, assevera o presidente do Secovi-SP.

O sistema político é verdadeiramente representativo. Os representantes municipais trabalham sem remuneração e têm direito a um período de ausência para exercer suas atividades profissionais. “É um país consciente, as cidades são limpas, com amplo desenvolvimento imobiliário, respeito às linhas arquitetônicas originais. Para nós, a Suécia pode servir como exemplo de educação e saúde públicas, assim como de poder político, bastante prestigiado e respeitado pela população. Há um grande interesse pelo bem comum.”

Congresso Mundial – Dos países que compõem o Bric, O Brasil é o que mais se destaca em termos de interesse para investidores. Conforme relato do presidente do Secovi-SP, para os holandeses a Rússia causa temor, em razão da corrupção e da fragilidade das instituições; a China, apesar da riqueza econômica, não preserva os direitos humanos, pois há grande utilização de mão-de-obra escrava; e na Índia as convicções religiosas atrapalham o pragmatismo.

“O Brasil, nos próximos 50 anos, será um país de investimentos, muito mais do que as nações tradicionais. Mostramos para o mundo a imagem de maturidade e aptidão para receber investimentos e empresas com novas visões de capitalismo, que colaborem com a construção de uma sociedade mais igualitária, em ambiente de livre iniciativa”, opina Crestana.

Na Holanda, há predominância de empreendimentos mix use (comercial, residencial para população de baixa, média e alta renda, escolas). O mais interessante dessas comunidades, de acordo com o presidente do Secovi-SP, é que estão localizadas onde era o mar. Essas construções modernas usam a criação de novos solos a partir da água, o sistema “land reclamation”. O custo desse processo é de 250 euros o metro quadrado criado, o equivalente a 800 reais o metro quadrado. “Apesar da extensão territorial, isso pode ser feito aqui no Brasil. Vale a pena estudar essa tecnologia.” Confira palestra do vice-presidente Cláudio Bernardes.

Cidade renovada – Holanda mistura arquitetura moderna com espaços históricos, respeito ao urbanismo e poucas áreas arborizadas. Nas regiões com grande concentração populacional, os empreendimentos são bastante adensados, as construções muito próximas umas das outras, com ruas de um metro ou um metro e meio, onde só passam pedestres e, no máximo, bicicletas.

“É interessante ver que há quarteirões inteiros sem árvores, completamente urbanizados e outros com grandes parques, além das áreas mistas. Mas os locais não deixam de ser maravilhosos pela ausência de vegetação. Não há radicalismo, mas profissionalismo quanto as análises ambientais”, explica o presidente do Sindicato da Habitação.

“A impressão é de que algumas dessas regiões, com mais de 150 anos, eram antigas favelas ou cortiços, que passaram por um processo de reurbanização, e se constituem, hoje, em espaços pitorescos. Se desenvolvermos áreas de favelas aqui no Brasil com espírito empreendedor semelhante, teremos mais regiões urbanizadas, legalizadas e com condições dignas de habitabilidade”, acredita Crestana, completando que o “banho de loja” deve vir acompanhado de transporte, escolas, creches e regularização fundiária.

“Criar núcelos de desenvolvimento social. Esse é um projeto interessante para um projeto piloto com a colaboração de empresas, cartórios de registros, bancos para financiar as obras. Isso não é para obter lucro, mas para estruturar um novo paradigma no mercado imobiliário brasileiro. O poder público colabora com a regularização dos espaços, liberando alvarás de construção e de conclusão de obras e fazendo uso de uma nova metodologia”, vislumbra o presidente do Secovi-SP.

Instituição da propriedade – No Congresso Mundial da Fiabci, o economista Hernando de Soto falou sobre a necessidade de o mundo institucionalizar a propriedade por ela ser base para crédito, novos negócios, liberdade social, livre iniciativa e instituição da verdadeira democracia com preocupação social. Talvez o especialista venha no próximo ano para o Brasil a convite da Fiabci/Brasil. Alessandra Cousteau, neta do emblemático Jacques Cousteau, falou sobre sustentabilidade e meio ambiente. Sua presença está confirmada para a Convenção Secovi deste ano, que acontece de 25 a 28 de setembro, no Anhembi.

O presidente do Secovi-SP, João Crestana, falou sobre o Estado e o município de São Paulo que, na visão do dirigente, é uma cidade praticamente litorânea, pois está separada do Oceano Atlântico pela Serra do Mar. “Mais de 80% das cidades do mundo vivem à beira mar”, lembra.

A delegação brasileira volta com a certeza de que o conceito mundial de sustentabilidade agora inclui o ser humano como parte fundamental do meio ambiente. “Tudo o que se retira da natureza deve voltar para garantir a sobrevivência futura das nações. Cada um dos participantes traz mais forte essa e outras premissas, bem como que existem técnicas para melhor uso do solo, preservação da água e recuperação dos rios”, ressalta Crestana.

Quanto à polêmica criada em torno da detenção do território onde está localizada a floresta Amazônica, o presidente do Secovi-SP enfatizou no encontro que os cuidados com a região são de responsabilidade dos brasileiros. “Temos os maiores potenciais e mananciais de água do mundo. Europa e Estados Unidos tinham grandes florestas, que foram destruídas para a consolidação das nações.”

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