Com moderação da jornalista Denise Campos de Toledo, especialistas debateram durante a Convenção Secovi quais os prognósticos para o setor imobiliário em meio ao cenário político e econômico atual do País.
De acordo com ela, o possível crescimento econômico acima do esperado não vai impedir o retrocesso em 2023. “A percepção de melhora econômica pode influenciar na hora do voto, mas não impedirá o exagero das contas públicas”, disse.
Denise ressaltou a expectativa geral com a realização das eleições para presidente da República, mas disse que os dois candidatos que apresentam maior intenção de votos ainda não definiram seus programas de governo. “Apesar das dificuldades do ambiente político interno, quem ganhar terá de enfrentar o Congresso Nacional para aprovar reformas relevantes, como a Administrativa e a Tributária.”
Democracia – O jornalista Marcos Guterman, diretor de Opinião do Estadão, fez uma breve retrospectiva da pandemia e do cenário de insegurança criado pela guerra da Rússia com a Ucrânia, e enfatizou a polarização política que atinge todos os brasileiros.
Para ele, o manifesto em defesa da Democracia, realizado em São Paulo no dia 11 de agosto, foi um dos eventos mais relevantes dos últimos tempos. “Por mais que a gente brigue, existem pontos que nos unem. E a defesa da democracia é um deles. Por mais que haja divergências, a democracia é uma base comum”, enfatizou.
“Em tempos normais, não importa quem vença, a vida segue. Mas nesse momento de gravíssimo problema social, com muita gente passando fome, isso é crucial”, disse.
O jornalista considera inaceitável ver as pessoas passando fome e morando na rua, e disse que o sentimento de indignação tem de ser de todos, independente de ideologia política. “Devemos esperar um país civilizado, sem aceitar essa condição de miséria.”
Para Guterman, é impossível dizer quem vai ganhar a eleição, mas é certo que haverá confusão. “Vamos perder tempo com questões que não são relevantes, e a democracia é o único caminho civilizado. E a perspectiva futura parte de um pacto de longo prazo.”
Cidades – O colunista do Estadão Pedro Nery, que é consultor legislativo do Senado Federal, falou sobre as cidades e a necessidade de haver regras menos restritivas para a construção, a fim de garantir moradia e vida digna para a população. “Esse tema tem relevância nacional”, disse.
Ele citou os Estados Unidos como exemplo de regras construtivas flexíveis, que criam a economia de aglomeração. “O PIB de Nova York corresponde ao PIB do Canadá. É nas cidades que as pessoas se juntam. De forma impressionante, o PIB de muitos locais caiu porque houve isolamento. E com o afastamento das pessoas, a economia não cresce”, explicou.
De acordo com ele, aproximar as pessoas é um tema importante demais para ficar somente na pauta dos burocratas. “O alto custo das cidades poderia ser cobrado das burocratas”, opinou.
Ele disse que o aluguel não aparece no Estatuto das Cidades e a habitação não é pautada sob o ponto de vista dos moradores. “Uma forma de fazer um debate nacional sobre esse tema é trazer para a discussão a pauta climática, do meio ambiente, destacando o consumo eficiente e o controle de emissão de combustíveis.”
Zoneamento urbano, para Nery, é um assunto ligado às pessoas. “Seja pela agenda verde ou pela social, temos de debater a produção imobiliária nos centros’, concluiu.
Recursos – O superintendente de Pesquisas Econômicas do Itaú Unibanco, Fernando Machado, acredita que, independentemente de quem ganhar a eleição para presidente da República, o foco inicial tem de ser na pauta fiscal. “O equilíbrio virá da reforma tributária.”
Machado destacou a excelente performance do setor imobiliário durante a pandemia, evitando uma enorme crise econômica no País, e disse que o cenário de aumento dos preços de materiais de construção está estabilizando, com 3,5% de reajuste. “O INCC vai subir 10% neste ano, mas vai cair para aproximadamente 3% no próximo ano”, apostou.
Ainda, disse que os custos dos insumos estão arrefecendo, mas os juros permanecerão altos, em torno de 11%, em 2023. “Estamos céticos com um corte acelerado de juros.”
O presidente do Secovi-SP, Rodrigo Luna, falou que para alcançar estabilidade social é necessário ter estabilidade da economia e habitação. “Aqui no Brasil, especialmente, vivemos uma oscilação permanente e sempre aguardamos uma oscilação menor. Nos congressos internacionais da Fiabci, sempre há questionamentos sobre o equilíbrio e a estabilidade do nosso País.”
Ele ressaltou a importância do programa Casa Verde e Amarela como a maior iniciativa habitacional do mundo. “Contudo, dependemos de confiança, que é tudo para a nossa cadeia produtiva. Insegurança jurídica e desburocratização ainda não são temas clareados e continuam sendo desafios para toda a nossa sociedade”, disse Luna.
José Carlos Martins, presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), contou que o Casa Verde e Amarela inseriu 75% do mercado imobiliário de autogestão na formalidade.
“O nosso setor está pujante, porque não acreditamos no imediatismo. Nosso produto é de longo prazo e geramos meio milhão de trabalhadores durante a pandemia. Não importa quem ganhar as eleições. Sem habitação e infraestrutura, o País não cresce. E a pergunta que precisa de uma resposta é como solucionar o déficit habitacional?”, concluiu o dirigente.
A Convenção Secovi-SP tem patrocínio de Atlas Schindler, Brain Inteligência Estratégica, Crowe, Porto Seguro Bank, Grupo Souza Lima (Diamante); BTG Pactual Advisors (Prata); CO.W Coworking Space, Eletromidia, Ret Capital (Bronze); Code7, Modulocker (Expositor); Desentupidora Júpiter, Inbuilt, Konstroi, Senior Mega (Apoio); Hiperdados, Iteleport, Urbit (Startech).