Altura dos prédios pode ter menos impacto no sombreamento do que se imagina
As crescentes demandas habitacionais, a necessidade de racionalizar deslocamentos e promover a inclusão social, possibilitando a utilização de infraestrutura de qualidade por mais pessoas, resultou na necessidade de um maior adensamento nas cidades. Como resultado dessa necessidade, a existência de edifícios mais altos passa a ser imperativa.
Entretanto, uma das grandes controvérsias no mundo imobiliário é a construção de edifícios altos. Parece que quando um novo empreendimento é anunciado, há uma reação instantânea e instintiva contra ele. Os críticos apresentam uma longa lista de razões pelas quais procuram argumentar que eles não são bons para a cidade. Entretanto, um item que predomina é o das sombras que eles provavelmente causarão.
Mas serão essas sombras significativas? O quão prejudiciais seriam para a cidade e seus habitantes? A construção de edifícios altos muitas vezes é, talvez por desinformação, motivo de alarme entre alguns membros da comunidade. Mas, até que ponto a altura dos edifícios é realmente um problema?
A resposta a essas perguntas deve ser avaliada de forma cautelosa, evitando conclusões precipitadas, que levem à adoção de políticas que equivocadamente visem limitar a operação da indústria imobiliária e a produção habitacional.
As sombras podem ser uma preocupação tangível e justa, mas a altura dos edifícios pode ter menos impacto no sombreamento do que se imagina.
Para melhor estudar o fenômeno das sombras produzidas pelos edifícios, pesquisadores em Nova York avaliaram esses efeitos na região de Manhattan, onde existe uma significativa concentração de prédios altos.
Segundo os pesquisadores, as sombras dos edifícios de uma cidade desempenham um papel importante na determinação da qualidade ambiental dos espaços públicos. Podem ser tanto benéficas, para os pedestres durante o verão, como prejudiciais, ao impactarem a vegetação, bloqueando a radiação solar direta por longos períodos. Determinar, portanto, os efeitos das sombras, requer não só uma visão instantânea do fenômeno, mas a determinação do acúmulo de sombras ao longo do tempo, em diferentes períodos do ano. Para isso, eles procuraram medir, durante um intervalo estabelecido, o tempo total que um determinado local está em sombra, e o tempo máximo que uma determinada região está continuamente na sombra.
Foram testados cenários alternativos, comparando-se edifícios altos com edifícios mais baixos, mas que têm maior área de ocupação no terreno. Essa simulação de duas diferentes tipologias resultou em sombras comparáveis no verão, no entanto, observou-se que a magnitude do impacto (aumento na sombra bruta) é maior para os edifícios mais baixos, sendo bem mais ampla no entorno imediato, especialmente mais perto de sua base.
As sombras são geralmente associadas a edifícios altos; no entanto, um edifício alto é limitado na sua planta baixa, e lançará menos sombra nas proximidades do que um edifício de altura média. Além disso, os edifícios altos, geralmente com uma moldura mais fina do que os edifícios mais largos e de altura média, projetarão uma sombra mais estreita, que se move mais rapidamente ao longo do dia.
Dessa forma, escolher a melhor altura de um edifício em relação ao impacto que sua sombra pode provocar é essencialmente a busca do equilíbrio entre distribuição e concentração. Ou seja, para edifícios de densidade populacional semelhante, um prédio mais alto distribui sua sombra em distâncias maiores, com menor impacto sobre a vizinhança, enquanto edifícios de altura média concentram seu impacto de forma mais abrangente, em uma área mais próxima.
Claudio Bernardes é engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP.
Artigo publicado na Folha Online em 29 de março de 2024