É lamentável, mas nós, paulistas, somos os principais consumidores da madeira amazônica ilegal.

Apenas nos últimos sete anos, de acordo com o monitoramento por satélite realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), uma área equivalente ao território da Suíça (41 mil Km2) foi desmatada na Floresta Amazônica, sem contar com o desmatamento no Cerrado e na Mata Atlântica.

Infelizmente, não damos mais a devida atenção a esses números, pois se repetem ano após ano. E assim se vai exaurindo este tesouro da humanidade.

Com a perda de habitat, sucumbem por consequência todos os seres vivos que dele dependem. Com frequência cada vez maior, espécies da flora e da fauna são extintas.

Nosso país tem o conjunto de vida selvagem mais rica do planeta, mas é também onde espécies desaparecem permanentemente em larga escala. Na lista publicada pelo Ministério do Meio Ambiente, no Diário Oficial da União em 18/12/2014, estão relacionadas 3.296 espécies classificadas como extintas no planeta, extintas no Brasil, extintas no habitat natural, criticamente ameaçadas ou vulneráveis.

Mas o que nós, que vivemos em São Paulo, temos a ver com algo que acontece a 4 mil km de distância?

Bem, a Amazônia Legal é a principal produtora de madeira tropical do mundo e nós, paulistas, consumimos cerca de 20% da produção destinada ao mercado nacional (86% do total produzido).

Entre 43% e 80% da madeira proveniente da Amazônia é produzida ilegalmente, de forma predatória. Compramos casas, escritórios ou apartamentos e frequentamos hospitais, shopping centers, hotéis, escolas etc. que, não raro, têm estruturas de madeira nos telhados, para os quais se destinam 42% do total da madeira amazônica no estado de São Paulo. Andaimes, formas e escoramento para a construção de suas estruturas de concreto respondem por 28%; pisos e esquadrias 11%; móveis de madeira, 15%.

Como em qualquer outro mercado, é a demanda que determina as características da oferta. Ou seja, se há baixa demanda por produtos que utilizam madeira legal ou certificada, consequentemente há pouca oferta.

O Documento de Origem Florestal (DOF) é a licença obrigatória emitida pelo Ibama para o controle do transporte de produto e subproduto florestais de origem nativa. Infelizmente, não é possível garantir que a madeira que possui o DOF atende a todos os requisitos legais e aos padrões mínimos de sustentabilidade.

Para que haja plena garantia ao consumidor de que todas as etapas de produção, distribuição e venda de madeira nativa, desde sua extração até o produto final, são realizadas de modo sustentável, entidades como o Forest Stewardship Council (FSC) e o Programa Brasileiro de Certificação Florestal (Cerflor) estabelecem normas e padrões de qualidade rígidos para todos os envolvidos na cadeia de manejo e custódia da madeira.

A matéria-prima utilizada nos produtos certificados é totalmente rastreável, até a área de onde a árvore foi cortada. As empresas que buscam voluntariamente a cerificação têm seus processos auditados por certificadoras reconhecidas mundialmente, como BRTUV, Bureau Veritas Certification, SGS e DNV, dentre outras.

Para conhecermos mais sobre esse assunto, o Secovi-SP organizará missão empresarial, prevista para julho deste ano, em área de extração e beneficiamento de madeira certificada pelo FSC, localizada no município de Itacoatiara, no estado do Amazonas.

O combate ao desmatamento é anseio comum a todos os brasileiros. Poucos, porém, possuem condições de atuar de forma mais direta. Este é o caso dos compradores e frequentadores de imóveis e dos profissionais atuantes na cadeia de produção imobiliária.  Façamos, pois, a nossa parte.

(*) Hamilton Leite, vice-presidente de Sustentabilidade do Secovi-SP