São Paulo tem passado por longos períodos de estiagem, com quedasassustadoras da umidade relativa do ar. Esse clima seco faz com quecrianças e idosos, principalmente, sofram com problemas respiratórios.Isso se comprova com o aumento do registro das visitas a hospitais. Emmeio a tanta aridez, os jardins dos condomínios surgem como pequenosoásis urbanos. Mas esses espaços são uma parte do projeto paisagístico.
O presidente da Associação Nacional de Paisagismo,Celso Bergamasco, explica que o projeto paisagístico compreende todo otratamento dado à área externa do condomínio, incluindo térreo, subsoloe outros níveis. ?O público em geral confunde jardinagem com paisagismo,que inclui piscina, pisos, praças, acessos, pergolados, gazebos,espelhos d?água.?
Desenvolvido simultaneamente aoprojeto de arquitetura do edifício, o paisagismo é tão importante quepode até mesmo alterar o desenho da torre. ?Muitas vezes isso acontecepela melhora potencial de uso do espaço, como insolação para piscina evento. Por isso a importância de arquiteto e paisagista trabalharem emconjunto?, ressalta Bergamasco, completando que o empreendimento obedecea uma série de legislações e normas para ser aprovado, e uma alteraçãono meio do caminho pode prejudicar todo o calendário de conclusão eentrega do condomínio. O pensamento é compartilhado pela arquitetaMartha Gavião, da Associação Brasileira dos Arquitetos Paisagistas. ?Omais importante é que ele seja desenvolvido na prancheta incorporador.?
Sempre há tempo ? Independente da qualidade dopaisagismo, ele não é definitivo, pois sofre desgastes no decorrer dosanos e do uso. Mas sempre é possível melhorá-lo, acrescentando e mudandoalguns conceitos. ?E essas melhorias podem ser implantadas a custosreduzidos. Condomínios com 20 anos ou mais costumam refazer aimpermeabilização de todo o térreo. Esse momento é ideal para mudar oprojeto. Para isso é só contratar um bom profissional?, orientaBergamasco.
Mas não se deve jamais economizar com aimpermeabilização do ambiente. É essa parte da obra que vai garantir alongevidade do jardim e a segurança da edificação. Vale ressaltar queprojetos paisagísticos de qualidade não são privilégio dos grandescondomínios. Há soluções menos onerosas para edifícios de padrão maispopular.
De acordo com o engenheiro agrônomo RodolfoGeiser, que trabalha em sociedade com a arquiteta Christiane Ribeiro,nesse caso pode-se utilizar pisos de pedriscos, abusar de plantas eáreas verdes, instalar quadras de terra batida e brinquedos menossofisticados e cultivar árvores frutíferas, como abacateiros, mangueirase pitangueiras. ?Lógico que executar e manter uma área verde sempre geraum ônus. Mas aí iniciamos a discussão daquilo que chamamos valoresintangíveis, não mensuráveis. Quanto de beneficio psicológico essa áreaverde trará para a comunidade que vive nesse condomínio?? Para ele, maisimportante é o homem voltar-se para a natureza.
Aescolha das plantas para os jardins deve obedecer aos anseios dosmoradores do condomínio. Até onde eles gostam de plantas e de flores?Estão dispostos a custear os serviços de manutenção? Essas são algumasperguntas que precisam de respostas antes de o síndico pensar em mudar ojardim. ?As idéias devem ser claras, porque há plantas que necessitam demais cuidados, fato que encarece a manutenção. Inversamente, há aquelasmais baratas como árvores. Herbáceas floríferas requerem muito maistrato e devem ser constantemente substituídas?, explica Geiser.
Não há, de acordo com ele, espécies vegetais queatraiam mosquitos Aedes aegypti, transmissores da dengue. ?Sempre sefala nas bromélias, porque acumulam um pouco de água entre as folhas.Entretanto, essa água não é cristalina e nela vivem inúmerosmicrorganismos e restos de vegetais, formando o que poderíamos chamar demicro-ecossistema, onde não há risco de proliferação da dengue. Nosjardins, o perigo está nas fossas d?água, nos vasos e outros recipientesabandonados que acumulam água da chuva?, ressalta o engenheiro agrônomo.
Pequenas áreas ? Condomínios com áreas comunslimitadas têm necessidade de um belo projeto paisagístico para queproporcione aos moradores bem estar mínimo. ?Nesses locais, os projetosdevem ser mais ricos e planejados?, ressalta Martha.
Deacordo com ela, deve-se evitar que as quadras poliesportivas e achurrasqueira fiquem próximas das janelas dos quartos. ?O ideal é que ojardim ocupe essas áreas contíguas aos dormitórios.?
Nos jardins, a fase de consolidação das plantas é a que requermaiores cuidados. ?O primeiro ano é de adaptação, pois as plantas passampelas quatro estações do ano. Por isso a importância de contratar umaempresa de manutenção idônea, que tenha registro no Crea, emita notafiscal e designe agrônomo responsável para acompanhar os jardins?,orienta Bergamasco.
Para ele, não adianta investirrecursos com um belo projeto de revitalização paisagística, para deixara manutenção dos espaços arborizados sob a responsabilidade de pessoassem qualificação para o trabalho. ?O jardineiro entende de pragas, sabeidentificar doenças e medicar corretamente as plantas. Faz o fitosanitário preventivo. Evidentemente que o zelador não tem e nem deveriater esse conhecimento.? Mesmo a poda das espécies não deve ser atribuídaao zelador. ?Para isso é necessário usar ferramentas e mão-de-obraadequadas?, lembra Martha.
Na opinião de Geiser, seexistir condôminos dispostos a acompanhar a manutenção do jardim, esseserviço pode ser realizado por técnicos contratados só para isso. ?Háuns 25 anos e durante outros dez, fizemos um trabalho de enriquecimentodos espaços verdes do Condomínio Portal do Morumbi, em São Paulo, comuns 130 mil metros quadrados. Os condôminos criaram uma ?Comissão dePaisagismo?, com oito a dez interessados, que nos contrataram paraprestar consultoria, além de um técnico agrícola e mais um grupo defuncionários para a execução dos trabalhos?, lembra o engenheiroagrônomo. ?A contratação de empresa de manutenção não deu certo naquelecondomínio.?
Apreciar o belo ? O Brasil é umpaís tropical, portanto nos jardins não podem faltar plantas, água ?fontes e espelhos d?água ? e muita vegetação. ?Jardim não deve serunicamente contemplativo. Ele precisa ser usado, ou seja, ter bancos elugares para as pessoas passearem?, opina Bergamasco. Já para Martha, emum jardim só não pode faltar a vontade de apreciá-lo.
Jardins mais adaptados ao ecossistema urbano, com árvores nativas,são algumas das tendências futuras dos projetos paisagísticos.?Lembrando que paisagismo também é arquitetura organizadora de espaçosverdes e úteis, que tragam um pouco de equilíbrio psíquico essencial aoser humano. Plantas e muita vida?, ressalta Geiser, concluindo que opaisagismo deve proporcionar ao homem lazer passivo ? o simples estar emcomunhão com o verde das plantas ? e ativo ? esportes e lazer.