A população mundial, assim como a proporção da população total que vive em cidades e áreas urbanas, explodiu nas últimas décadas. É fato comprovado que o “verde urbano” desempenha um papel importante na mitigação do chamado efeito de “ilhas de calor” e, durante a pandemia, a relevância dos espaços públicos e áreas verdes na recreação diária também veio à tona.

Acredita-se que os espaços públicos tornem as cidades mais habitáveis, saudáveis e socialmente igualitárias. Entretanto, até o momento, as discussões sobre espaços públicos têm girado, principalmente, em torno de tipos emblemáticos, como praças e parques.

Contudo, na última década, o uso recreativo de cemitérios é uma questão que tem atraído crescente interesse no que diz respeito a pesquisa e políticas de uso do solo, em especial nos países nórdicos. Mas, será que o uso dos cemitérios como área recreacional seria considerada uma ação desrespeitosa ou socialmente aceitável?

Para responder a essa pergunta, pesquisadores da “Swedish University of Agricultural Sciences“, de Uppsala (Suécia), e do “Institute of Transport Economics“, de Oslo (Noruega), desenvolveram estudo explorando perspectivas do uso recreativos dos cemitérios, em especial dentro de contextos que envolvem áreas urbanas adensadas.

Foram efetuadas entrevistas com usuários de cemitérios, de diferentes crenças religiosas, em cidades da Noruega e Suécia. Os resultados revelaram que as atividades recreativas passivas, como passear ou tomar um café no banco do cemitério, são geralmente percebidas como comportamentos aceitáveis. No entanto, as opiniões divergem sobre ações “ativas”, como correr, andar de bicicleta e passear com o cachorro, por exemplo.

Parece claro que a forma como as pessoas percebem o uso dos cemitérios é parcialmente dependente de crenças e tradições culturais, e o estudo concluiu que a atmosfera pacífica existente nos cemitérios deve ser preservada e nutrida, embora com planejamento e implantação adequados, algumas atividades recreativas podem ser integradas a certos tipos de cemitérios.

Claudio Bernardes é engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP.