Mauro Segura durante participação no Enacon

O segundo dia do Enacon (Encontro das Administradoras de Condomínios), que acontece na sede do Secovi-SP, na capital paulista, entre os dias 4 e 5/10, começou com um painel voltado para as áreas de tecnologia e inovação. Na abertura, o coordenador do evento e membro da vice-presidência de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi-SP, Paulo Romani, fez um breve resumo sobre a importância deste debate. “As novas tecnologias, inevitavelmente, afetam a forma como a nossa indústria trabalha, as receitas, as expectativas dos clientes e contribuem, ainda, para derrubar as barreiras de mercado que, inclusive, podem ajudar no surgimento de novos concorrentes, ainda maiores do que os já existentes. Por isso, é imprescindível que o mercado esteja preparado e tenha uma visão ampla de suas fraquezas, vantagens e oportunidades”, afirmou.   

Em sua palestra, a coordenadora adjunta do grupo de Novos Empreendedores (NE) do Secovi-SP, Márcia Taques, destacou que o Grupo de Inovação do NE se propôs a mapear algumas tecnologias e comportamentos que afetarão o setor nos próximos anos. Segundo ela, através dessa ação, acabou surgindo o MoviMente, iniciativa que trouxe as startups para dentro do Secovi-SP. Entre as tendências detectadas pelo grupo, destacam-se: a economia compartilhada, base para o funcionamento do Uber e Airbnb, que seria a utilização mais eficiente e intensa dos recursos já existentes baseada numa rede de confiança; a impressora 3D, que deve impactar diretamente o ramo da habitação e, inclusive, já foi responsável pela impressão de um prédio de 32 andares na China em cerca de dois meses; a existência de sensores e medidores mais baratos que permitiriam até a medição remota de água e luz; a inteligência artificial, que é a capacidade do computador compreender, aprender e replicar aquilo que um indivíduo faz, podendo gerar, inclusive, um impacto significativo em atividades rotineiras como é o caso da administração de condomínios; a robótica, que impacta as portarias e a prestação de serviços, em especial, na área de limpeza; e, por fim, o Blockchain, que lida com a questão da certificação da informação por diversos agentes e, segundo Márcia, já está sendo desenvolvida no País através das instituições financeiras.

“A gente precisa olhar para os nossos negócios de uma forma diferente do que fazíamos há cinco anos e entender que não conseguiremos replicar o padrão atual por mais dez ou 20 anos. O modelo terá que mudar sempre e estar atento às novas tecnologias para se adaptar. A gente precisa aceitar que o nosso modelo de negócio não é mais perene como era e, ainda, perceber que se a inovação da empresa não vier de dentro, virá de fora. É preciso conhecer isso tudo que está acontecendo, internalizar e abraçar algo novo”, finalizou Taques. 

A próxima palestrante foi Letícia Pozza, cientista de dados e especialista em big data social, que enfatizou a necessidade cada vez maior das empresas serem orientadas por dados. Ela lembrou um episódio muito conhecido da área e que influencia a forma como as ferramentas são usadas atualmente. Segundo ela, em 2007, durante a campanha de Barack Obama para a presidência da República, os dados gerados pelas interações dos internautas passaram a ser olhados de uma maneira proativa. “A forma como a pessoa pensava e reagia aos fatos no ambiente online orientava a comunicação que era entregue diretamente àquele usuário. Isso deu tão certo que acabou sendo utilizado por Donald Trump também”, comentou. “Os comportamentos gerados nas redes sociais nos alimentam de diversas informações, como dados de interação, atributos e características, opiniões, preferências e comportamentos, permitindo uma visão de 360° do consumidor, acrescentou Letícia. No entanto, ela salienta que os dados por sí só não são nada sem uma interpretação adequada. “Tecnologia, acesso à informação e monitoramento são muito interessantes mas se a gente não utilizar e interpretar os dados não terão valor algum”, disse Pozza, que defendeu, ainda, a inclusão da “cultura analítica” dos dados dentro das empresas.  

O último a se apresentar foi Mauro Segura, diretor de Marketing e Comunicação da IBM, que iniciou sua palestra salientando o salto tecnológico da humanidade nas últimas três décadas. “O computador pessoal surgiu na década de 80, os sites e o telefone celular nasceram nos anos 90, a primeira rede social – o Orkut – surgiu em 2004, o Facebook em 2006 e o smartphone, que trouxe uma série de inovações no modo de se comunicar, veio em 2007. No entanto, assusta saber que as tecnologias que mais usamos no dia a dia só tem dez anos de vida. Além disso, nós vamos viver nos próximos anos, talvez na próxima década, a maior transformação tecnológica que o mundo já viveu, uma mudança muito maior do que a ocorrida na época do surgimento da internet e dos celulares”.  Segura pontuou, ainda, algumas das principais tecnologias que estão batendo à porta dos condomínios e serão de uso comum dentro de alguns anos. “A portaria remota, a biometria e o reconhecimento fácil são ferramentas que serão cada vez mais usadas no controle de acesso. A impressora 3D, a realidade virtual, os drones – que só nos EUA somavam 2,5 milhões de unidades em 2016 -, e a inteligência artificial são os demais instrumentos que irão reformular o mercado atual”, acrescentou.

Por falar em inteligência artificial, Mauro também apresentou o “Watson”, um sistema de programação cognitiva criado pela IBM, e que já foi utilizado numa parceria com a Pinacoteca de São Paulo. Na ocasião, os visitantes puderam interagir com sete obras de arte escolhidas pela instituição e “questioná-las” a respeito de suas dúvidas. A “conversa” só foi possível a partir do sistema cognitivo da ferramenta, alimentado por oito meses com várias fontes de informações sobre as obras. “Hoje, o Watson é capaz de responder até 70 mil perguntas diferentes sobre estas sete peças”, finalizou o diretor que, após a apresentação de uma versão “condominial” do Watson, esclareceu que o sistema pode ser adaptado para várias ocasiões.