Em nível global, a indústria da construção se vê diante de um desafio inadiável: é preciso aumentar sua produtividade. Segundo relatório da McKinsey, grandes projetos realizados pelo setor em todas as classes de ativos, geralmente, demoram 20% a mais de tempo para serem entregues; e 80%, ao final e ao cabo, acabam acima do orçamento projetado inicialmente.
Segundo a consultoria, as empresas do setor têm um longo caminho a seguir quando o assunto é encampar as novas tecnologias que demandam investimentos para sua concepção. Tanto que o dinheiro que alocam em Pesquisa e Desenvolvimento são menores quando comparados a outros setores: 1% da receita é dispendido em P&D. Em outros segmentos, como o automobilístico e o aeroespacial, essa fração fica entre 3,5% e 4,5% das receitas. Os números falam por si: há um mar de oportunidades para a construção mergulhar.
Mais: em todo o globo, o crescimento da produtividade da economia nas últimas duas décadas foi de 2,8% ao ano. No setor industrial, essa cifra foi de 3,6% ao ano. Na indústria da construção, esse desempenho foi de 1% ao ano.
Empregando 7% da população mundial em idade produtiva e com gastos anuais da ordem de US$ 10 trilhões (13% do PIB global), essa indústria é vital para a salubridade de qualquer economia. Para ter ideia de sua dimensão, ainda segundo a McKinsey, se o setor não se haver das mudanças necessárias para preencher suas lacunas de produtividade, a médio prazo será difícil atender às demandas globais de infraestrutura e habitação.
Peguemos um exemplo caseiro, bem diante de nossos olhos.
No Brasil, temos um déficit habitacional de mais de 7 milhões de moradias a vencer, segundo a Fundação Getúlio Vargas. Nesse cômputo não estão incluídas as habitações necessárias para atender ao crescimento vegetativo da população (casamentos, divórcios, nascimentos…), que requer mais 15 milhões de imóveis até 2025 – ou seja, 1,5 milhões de moradias por ano entre 2015 e 2025.
Diante desse desafio, quantas foram as unidades habitacionais ofertadas pelo mercado imobiliário no País ao longo do ano passado? Pouco mais de 82 mil, segundo o Anuário do Mercado Imobiliário 2017 do Secovi-SP.
É verdade que muito desse gargalo seria suprido se a vida das empresas não fosse atrapalhada com o excesso de burocracia e escorchantes impostos. Apesar disso, as companhias do setor podem fazer muita coisa elas mesmas. Sair na frente em iniciativas que surfem nas novidades trazidas pela tecnologia é um bom começo.
Felizmente, o mercado tem se apercebido das tendências e, passo a passo, incorporado várias iniciativas modernizadoras.
Conhecer esses fenômenos, inteirar-se de como implementá-los, entrar em contato com os pontos desencadeadores dessas mudanças e desmistificar muito do “medo” que a palavra tecnologia traz a muitas cabeças… Esses propósitos são os da Convenção Secovi deste ano, cujo mote é “Transforme-se”. Teremos muito a tratar.
Realidade virtual para, por exemplo, demonstração de imóveis, que agiliza o atendimento a clientes e diminui os custos.
Transação de imóveis com criptomoedas, ampliando a margem de possibilidades de negócio.
Uso da blockchain para assegurar a legalidade das transações digitais.
Estamos na era da colaboração? Que tal financiar uma obra via crowdfunding, recorrendo a um sem-número de investidores em plataformas digitais?
E que tal pensar em um empreendimento imobiliário tendo o cliente, desde a concepção, orientando como ele quer o imóvel – o dito crowdsourcing?
Por falar em cliente, sabemos que hoje ele quer mais do que comprar produto e/ou serviço: quer experiências. Mas como oferecer a experiência assertiva? Simples: interpretando o cliente – o mesmo que não pode mais ser decodificado por aspectos como etnia, classe social, gênero, crenças…. Ficou complexo, não?
São várias as possibilidades que esse cenário oferece. E o melhor: aproveitá-las depende só da vontade do empreendedor de se transformar e fazer coisas novas.
É inescapável ao setor imobiliário, um dos muitos que compõem a indústria da construção, render-se a estratégias que contemplem esse novo mundo. Fazer mais do mesmo é um convite ao atraso. Aumentar a produtividade, nesse cenário, requer responder às mudanças na mesma velocidade em que acontecem.
E esse será o espírito da Convenção deste ano, com painéis que abrangerão toda essa gama de assuntos.
Quem quiser fazer parte disso, está mais do que convidado.
*Diego Velletri é coordenador geral da Convenção Secovi 2018. (www.convencaosecovi.com.br)