Com o esgotamento do modelo fiscal vigente nos últimos anos e do presidencialismo de coalização, os brasileiros foram pegos por uma enxurrada de más notícias, consequência de um governo perdulário e heterodoxo na condução econômica. Isso tudo depois de anos de crescimento de massa salarial, inclusão social e explosão de consumo.

O diagnóstico foi traçado pelo economista Eduardo Gianetti da Fonseca, um dos palestrantes do painel de abertura da 87ª edição do Enic (Encontro Nacional da Indústria da Construção). “Há pouco tempo, éramos a estrela do mundo emergente. De 2004 a 2011, crescemos a uma média de 4% ao ano, isso com inclusão social e muita gente realizando o sonho da casa própria. No entanto, hoje, estamos em uma crise que eu chamo de a maior reversão de expectativa da era republicana, tanto frente aos formadores de opinião como à população”, disparou.

Algo de muito errado foi feito na economia, segundo o economista. O cenário em que estamos encontra-se comprometido pela combinação de três fatores: recessão, inflação e déficit externo. “O PIB deve cair de 2% a 3% neste ano, sem nenhum sinal de melhora para 2016. A inflação estourou o teto da meta e hoje está entre 9,5% e 10% pelo acumulado do IPCA. E, de alguns anos para cá, começamos a ter o chamado déficit em conta corrente”, disse. Esse déficit é calculado pelo encontro entre tudo o que o Brasil gasta com o mundo e tudo o que o mundo gasta com o Brasil, que hoje soma quase 4% do PIB. “Isso significa que o Brasil precisa de algo da ordem de US$ 80 bi a US$ 100 bi por ano para cobrir a diferença entre o que gastamos com o mundo e o que o mundo gasta conosco.”

Na avaliação do economista, o cenário externo desfavorável, os fatores estruturais domésticos e a má qualidade da política econômica explicam a atual conjuntura. “O mundo que ajudava o Brasil a crescer deixou de fazê-lo. Mas não dá para dizer que esse é o fator protagonista da crise”, afirmou. Na abertura do 87º Enic, o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, ponderou que a agrura econômica do Brasil é ocasionada pelo arrefecimento da China, que hoje compra menos commodities, como minérios de ferro. “A maré da economia mundial baixou e nos pegou de tanguinha, ou coisa pior. É na hora que a maré baixa que a gente descobre quem está preparado para a nova realidade e quem não está”, brincou, fazendo referência a uma metáfora do megainvestidor Warren Buffett: só quando a maré baixa que é possível ver quem estava nadando nu.

E isso por quê? “Nós temos um problema fiscal estrutural que, se não for enfrentado com desassombro, vai nos condenar, no melhor cenário, à mediocridade”, sentenciou. O economista lembrou que em 1988 o total de carga tributária arrecadada correspondia a 24% do PIB, tida como normal para um país de renda média. “Hoje, a carga tributária bruta é de 36% do PIB. Nosso déficit nominal (aquilo que o Estado gasta além do que arrecada) é 8% do PIB. Ou seja: carga tributária mais déficit nominal resulta em 44% do PIB brasileiro transitando no setor público”, frisou, alertando que a sociedade brasileira não aguenta mais aumento de imposto, justamente uma das saídas elencadas pelo governo para fazer mais caixa. Isso, diz Gianetti, pode levar o País a uma “revolta tributária” por parte da população. Conquanto a sede arrecadatória tenha crescido vertiginosamente, a capacidade de investimento do Brasil de 2015 é inferior à do Brasil de 1988. Naquele ano, o Estado investia 3% do PIB; nos últimos quatro anos, tem investido em média 2,5%.

O abandono do tripé econômico consolidado no governo de Fernando Henrique Cardoso e mantido no primeiro mandato do ex-presidente Lula (meta de inflação com autonomia do Banco Central para mantê-la equilibrada, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal) e ingerências cometidas na macro e na microeconomia, ambas potencializadas pela presidente Dilma Rousseff, conduziram o País ao quadro atual, segundo Eduardo Gianetti.

Como saída, ele vislumbra três cenários: dois anos de ajustes e os últimos dois anos de mandato de Dilma Rousseff retornando à irresponsabilidade nas contas públicas em nome da campanha eleitoral; a recessão se arrasta até o fim do mandato de Dilma Rousseff, pois não há nenhuma perspectiva de melhora no curto prazo; ruptura e o Brasil mergulhado no populismo econômico, a exemplo de alguns vizinhos latino-americanos, o que traria consequências avassaladoras. 

De todos esses cenários, Gianetti julga que o segundo seja o mais provável.

Como solução, o economista aponta uma necessária e urgente reforma no pacto federativo, o que só é possível fazer com liderança de estadista e mudança de postura. “O tamanho do governo central do Brasil vai ter de diminuir. Meu sonho de consumo como cidadão brasileiro é que o dinheiro público seja gasto o mais perto possível de onde ele é arrecadado. Isso aumenta transparência, accountability e a responsabilidade”, finalizou o economista.