Fábio Gandour deu dicas para os condomínios usarem tecnologias simples

Na primeira palestra do segundo dia do Enacon (Encontro Nacional das Administradoras de Condomínios), dia 10/10, Fábio Gandour tratou, com muito bom humor e dinamismo, do tema Tecnologia e negócio: O que essa dupla pode fazer por nós.

Graduado em medicina, profissão que exerceu por dez anos, e PhD em Ciências da Computação, Gandour confessou o desafio enfrentado em desenvolver o tema e apresentá-lo com clareza e permitir fácil entendimento do público. “Não se joga um conteúdo para o alto e ele fica em pé. Ainda mais para um setor com mais de 100 mil ações fiscais, tributárias e administrativas a serem cumpridas por um único condomínio”, disse, destacando a complexidade do trabalho das administradoras de condomínios.

Inclusive, complexidade foi a expressão escolhida pelo palestrante, por ser esta a palavra que definirá o século 21, de acordo com o físico e cientista Stephen Hawking, com quem Gandour teve a oportunidade de conviver durante um período de estudo.

Complexidade, contudo, não está relacionada com a dificuldade de o “homem ir para Marte”, mas sim com o exercício diário de desempenhar tarefas simples. “Complexidade caracteriza o mundo moderno. E os condomínios são lugares complexos. Quem não gosta de gente e cenário complexo deve deixar de ser administrador de condomínios”, enfatizou.

Outro aspecto destacado por ele foi a necessidade de se estabelecer uma comunicação efetiva com o cliente, independente da área de atuação profissional. Mas quem é o cliente atual dos condomínios? “Antes, o gestor condominial protegia a propriedade. Essa era a essência da profissão do administrador. Isso mudou. Hoje, a missão está diretamente ligada com o relacionamento com as pessoas, que têm origens e demografias diversas. É preciso conhecer a origem das pessoas, o estrato social, a criação que tiveram e de onde vieram. O desafio é harmonizar um grupo diverso”, esclareceu.

“Vamos criar as tecnologias de serviços”, prometeu Fábio Gandour

Gandour lembrou que o cliente está cada vez mais conectado às mídias sociais e à tecnologia digital, que muda minuto a minuto. Entretanto, não é preciso usar tecnologias de ponta nos condomínios, mas sim aproveitar aquelas mais simples e baratas, como telas planas. “Quando surgiram, elas eram caras e hoje estão dispostas em todos os lugares. Por que não usar no condomínio para dar avisos e se comunicar com os condôminos, dentro do elevador ou no hall de entrada? É um recurso fácil, sustentável, atraente e o bonito. Use a tecnologia simples a seu favor.”

A escolha da tecnologia tem de ser adequada para atender as pessoas e seus comportamentos. Gandour aproveitou para dar dicas aos participantes, destacando as medidas a serem tomadas para atender demandas tecnológicas de um futuro próximo. Os carros elétricos foram o primeiro exemplo. O cientista disse que se todos tiverem esse tipo de veículo, o edifício tem de estar preparado para suprir a demanda por energia elétrica.

O 5G (quinta geração da internet móvel), por sua vez, requer processadores locais, fibra ótica, antenas em torres e pequenas caixas de roteamento. “Cuidado com isso. Essa tecnologia está chegando e o cliente vai querer. Se o condomínio não atender, o síndico será considerado mau gestor”, disse Gandour.

Novos prédios estão sendo entregues com pistas de pouso de drones, no térreo. Entretanto, essas áreas sofrem interferência de sinais de condomínios vizinhos. De acordo com o palestrante, essas pistas têm de ser na cobertura. “Mas nesses locais venta muita. Como resolver”, questionou. Outro aspecto destacado por ele é a fragilidade da legislação para atender o uso comercial do drone. Atualmente, a lei só reconhece os fins recreativos dessa tecnologia.

Os robôs virão para atender problemas de mão de obra básicas, como limpeza e serviços gerais, e desentupimento de canos. Eles trazem consigo algumas características superiores ao ser humano: extrema força física, velocidade, destemor (falta de noção de perigo) e consistência nas ações repetitivas.

Inteligência artificial está na terceira onda e está ganhando destaque na mídia, o que para Gandour é negativo. “As pessoas têm de parar de se fascinar com o artificial e estudar mais a inteligência”, destacou. O psicólogo Howard Gardner dividiu a inteligência em sete atributos: visual-espacial; cinética-espacial; musical; lógico-matemática; linguística; interpessoal; intrapessoal. “Para que haja inteligência artificial, essas múltiplas inteligências devem ser desempenhadas pelas máquinas, o que não acontece.” Ele acredita que até 2025 haverá evolução nesse sentido. “Até lá, os condomínios podem usar certas inteligências, como sensores que detectam estímulos do ambiente”, recomendou.

Para ele, as relações nos condomínios serão baseadas na psicografia mais do que na demografia daqui a algum tempo, com aplicação da psicometria – uso de métodos científicos no estudo do comportamento humano.

Por fim, Gandour disse que as empresas da mesma cadeia de valor podem formar um ecossistema, cujos conceitos devem ser trazidos para o mundo dos negócios. Ainda, mais do que produtos, as empresas devem oferecer serviços. “O produto tem somente valor agregado. O serviço requer interface entre as pessoas. Vamos criar a ciência de serviços”, concluiu Gandour.

Uma exposição de produtos e serviços para o segmento condominial completou a programação do Enacon 2019, que contou com o patrocínio de Bradesco, Atlas Schindler, Intelbras, Comgas, Souza Lima, Vila Velha, Superlógica, Vivo, Empresta Capital, Graber, Group Software, Haganá, Jupiter, Limpidus, Techem, Aster, Pormade e Minha Portaria. Apoio institucional da Aabic (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo), entre outras instituições representativas do setor imobiliário.

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