Participantes do painel E agora?

Com a coordenação de Marco Gubeissi, diretor da vice-presidência de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi-SP, especialistas de empresas administradoras debateram no segundo dia do Enacon (Encontro Nacional de Administradoras de Condomínios) as ações adotadas durante o período mais duro da pandemia de coronavírus e trataram, também, das medidas atuais capazes de atender, com qualidade, as necessidades e os anseios dos clientes.

José Roberto Graiche Júnior, advogado, empresário e presidente da Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo (Aabic), lembrou que tanto a entidade presidida por ele quanto o Secovi-SP atuaram, no início da quarentena na cidade de São Paulo, para que a população dos condomínios ficasse em casa.

“Tivemos de organizar a vida de muitas pessoas, 24 horas por dia, sete dias por semana, entendendo decretos e regras estabelecidos para São Paulo e outros Estados, e criando as padronizações necessárias de operação. Houve uma perfeita sinergia entre todos, que nos permitiu compreender as legislações do período e, assim, operar e prestar um bom atendimento às carteiras de clientes”, explicou Graiche.

No Rio de Janeiro, uma possível inadimplência dos condomínios, capaz de impossibilitar as administradoras de honrarem os pagamentos de despesas, como os salários dos funcionários, foi o que mais preocupou o setor, de acordo com declaração de Leonardo Schneider, vice-presidente do Secovi-Rio, diretor superintendente da APSA Gestão Condominial, presidente do Capítulo IREM-Rio de Janeiro e também vice-presidente da FBN (Family Business Network). “Criamos um canal entre as empresas para falar sobre a importância do pagamento da taxa de rateio. E, de fato, tivemos um pequeno crescimento da inadimplência, muito mais em razão das dificuldades de orientações aos síndicos”, disse.

Ele ressaltou que o Secovi-Rio teve grande preocupação com as questões jurídicas, e atuou fortemente no esclarecimento dos condomínios. “Ao longo desse período, que ainda estamos vivendo, tivemos retorno positivo, e nos desdobramos para fazer frente às demandas do dia a dia.”

Para Antonio Couto, diretor do Grupo Lello e conselheiro da Aabic, todos estão em um processo de vivenciar e se adaptar às novas condições impostas pela pandemia, além de lidar com uma segunda onda de casos de Covid-19 em São Paulo. “O momento é de cuidado e atenção. Estamos ajustando os processos de acordo com a demanda. É certo que as empresas se mobilizaram e mostraram capacidade de promover ajustes rápidos e surpreendentes durante o início da pandemia, com grande competência das administradoras”, lembrou.

Segundo ele, as administradoras têm papel preponderante no controle da Covid-19, por atuarem com muitas pessoas, que devem ser instruídas sobre o uso correto das áreas comuns, e até mesmo das privativas, sem contar a responsabilidade que elas têm com os funcionários dos condomínios. “São necessárias muitas ações para atender essas frentes. Lidamos com profissionalismo e maturidade para contornar todas as situações adversas que surgirem.”

Casa segura – Os especialistas em administração de bens imóveis e condomínios destacaram a importância dada à residência durante a quarentena. “Nunca tivemos na história desse setor a virtuosidade percebida no período quanto ao pagamento da taxa condominial. Todos quiseram que o condomínio funcionasse”, disse Couto.

Ele lembrou, ainda, que os moradores iniciaram um movimento de realização de pequenas reformas em suas unidades, a fim de valorizá-las e deixá-las mais agradáveis. “As empresas administradoras também foram muito valorizadas, porque não deixaram de prestar os serviços de gestão condominial. Agora, temos de manter essa mesma qualidade, porque a pandemia vai perdurar”, opinou.

Futuro nas mãos – Na análise de Schneider, a vida cotidiana está passando por um processo disruptivo, de rompimento com o que havia antes do coronavírus e de antecipação de processos e tendências. Na vida condominial, essa aceleração pode ser percebida com a digitalização e a interação maior entre as pessoas. “No entanto, esse novo formato digital pode não ser tão simples assim para os síndicos, que nem sempre têm acesso à tecnologia.”

O desafio de se inserir em um novo formato leva tempo, de acordo com ele. “O mundo digital é grande e precisamos ter empatia nesse momento de transição”, recomendou Schneider.

Lembrando o tema do painel “E agora?”, Graiche Júnior destacou a transformação cultural dos clientes quanto ao uso da tecnologia nos condomínios, medida antes até mesmo rechaçada. “A pandemia impulsionou a digitalização e todos viraram a chave. Avançamos consideravelmente. Eu diria que quatro ou cinco anos, em apenas seis meses de quarentena”, opinou.

“Tenho a feliz percepção que a pandemia ajudou a mostrar a relevância da administradora dentro do condomínio, como consultora e organizadora na solução de conflitos. E os condôminos perceberam a nossa importância. Temos de continuar nos comunicando com a massa, e os moradores precisam participar mais e entender o amplo funcionamento do condomínio”, continuou Graiche.

Como tudo passou a ser feito dentro de casa, percebeu-se o aumento da preocupação dos moradores com as condições de manutenção do empreendimento e com as regras de funcionamento do condomínio. Com isso, aumentaram as demandas das administradoras, de acordo com Graiche. “Usaremos ainda mais a tecnologia para desafogar o dia a dia, mas sentiremos a necessidade de ampliar o capital humano.”

Provocações – Para Marco Gubeissi, 2020 foi o ano que as administradoras mais receberam elogios, principalmente, porque os condomínios perceberam o valor do apoio profissional. “Será que, com isso, os condôminos aumentarão o interesse em ser síndico?”, questionou.

Na visão de Couto, cenários novos produzem comportamentos novos. “A sindicância está passando por um freio de arrumação. Estamos percebendo que as pessoas querem participar mais das demandas diárias dos condomínios. Ouvimos falar de comunidades mais bem organizadas, e acredito que o futuro comportamental será diferente do atual. Vamos nos surpreender e teremos de nos ajustar.”

Para ele, ocorreram dois movimentos neste ano: a convergência dos moradores com síndicos e administradoras, e o engajamento de todos, culminando com uma gestão mais funcional e ‘turbinada’. “O condomínio passou a ser o personagem principal da operação, com ampliação da solidariedade, da participação e do interesse. A assembleia digital, por exemplo, está se consolidando e acredito que não teremos mudanças nesse formato. A Lello realizou mais de 1.500 assembleias digitais, e isso é um grande avanço”, argumentou o diretor da administradora.

As novas tendências, em sua avaliação, têm de ser respeitadas e cada um precisa buscar formas de se adaptar às inovações, criando engajamento entre os colaboradores e contratando profissionais mais qualificados.

Leonardo Schneider também acredita que o modelo digital para as assembleias era um desejo de todos, e veio para ficar, porque elas têm fluidez e estão funcionando bem, tanto para as empresas quanto para os condomínios. “A curva de aprendizado durante a pandemia nos mostra a importância de dar continuidade àquilo que funcionou.”

“É incontestável que a assembleia digital veio para ficar, apesar de as equipes estarem aptas também para realizar assembleias híbridas”, ponderou Graiche.

E agora? – Conforme estudo realizado pela Aabic, entre abril e outubro deste ano, 61% dos condomínios da cidade de São Paulo fizeram assembleias, 95% delas digitalmente. “Contudo, das agendadas para acontecer até 30 de novembro, 75% estão previstas para ocorrer de forma presencial e 25% por meio digital. Talvez, esses dados revelem o medo de impugnação da ata, porque falta clareza quanto à legalidade desse tipo de assembleia, e por ela não constar da convenção de condomínio”, destacou Graiche, completando que o assunto não está totalmente esclarecido.

Ele explicou que as assembleias presenciais têm de atender a todos os protocolos sanitários e há conflitos entre os condôminos acerca da segurança de suas realizações. “Na verdade, as administradoras e os condomínios estão passando por um momento de transição, e os modelos mais adequados irão se estabelecer.”

Patrocínio – Felipe Bergamaschi, da CashMe explicou que a empresa nasceu de uma fintech do grupo Cyrela e visa a atender condomínios com caixa negativo, tornando-se alternativa para a solução de problemas específicos, com aplicação de taxas justas e prazo de 90 meses de pagamento, mais carência de três meses para começar a pagar. “É mais que um produto financeiro. Proporcionamos saúde aos condomínios”, enfatizou.

O empréstimo é feito a partir da análise dos três últimos balancetes do condomínio, das atas de aprovação de assembleias e demais documentos, mas a contratação depende da aprovação da maioria de votos dos condôminos.

O Enacon conta com patrocínio de Atlas Schindler, Souza Lima, Bradesco, Vila Velha, Airbnb, Superlogica, CashMe, Júpiter, Empresta Capital, Group Software, Athos/GoSoft, Mapfre, Haganá Pormade, Winker e Sindiconet, como mídia parceira.