Vice-presidente do Secovi-SP, Claudio Bernardes fala sobre um novo modelo de indicadores, chamado 5D+3S, incorpora cinco dimensões amplamente reconhecidas dos ambientes físicos: Desenho, Destino (acessibilidade), Distância do transporte público, Densidade e Diversidade.

Claudio Bernardes é vice-presidente do Secovi-SP.

Os espaços públicos são plataformas para interação e inclusão social, facilitam troca de experiências, cultura e competências, e constituem-se em importantes áreas para apoio ao comércio, atividades de lazer e turismo, além desempenharem muitas outras funções. Indicadores adequados para medir sua qualidade são indispensáveis em muitas etapas de planejamento urbano, em especial nos projetos de regeneração de áreas centrais das cidades.

A qualidade do espaço público, entre outros fatores, envolve uma avaliação objetiva dos ambientes físicos, e a percepção subjetiva do usuário. O estudo e a compreensão da combinação desses fatores não é tarefa simples. Uma ampla gama de características contribui para a forma como as pessoas percebem os espaços abertos, a partir de diversas propriedades dimensionais, como geometria, topologia e outros atributos físicos do lugar, considerados em conjunto com sua flexibilidade, multifuncionalidade e perfil dos usuários.

Para estruturar de forma analítica a avaliação de espaços públicos, pesquisadores da faculdade de Arquitetura da Universidade de Dalan, na China, propõem um novo modelo de indicadores, chamado 5D+3S. Este modelo incorpora cinco dimensões amplamente reconhecidas dos ambientes físicos: Desenho, Destino (acessibilidade), Distância do transporte público, Densidade e Diversidade. Integra, ainda, nas bases de avaliação, três dimensões sociais: Sociabilidade, Segurança e Status.

Com o auxílio de tecnologia baseada em “big data”, o modelo foi aplicado nas ruas da cidade de Wuchang (China), para medir a qualidade dos espaços em múltiplas dimensões, com a utilização do modelo de estudo proposto.

Os resultados mostram que o modelo de medição pode avaliar efetivamente a qualidade do espaço da rua de forma objetiva. A observação dos resultados mostra que a introdução do indicador social (3S) confirma o fato de que as deficiências dos espaços levam a uma má experiência de percepção por parte do
pedestre. Por fim, os resultados do experimento comprovam a possibilidade de se construir um modelo para medição sistemática de qualidade, combinando o ambiente físico, a visão do pedestre, a experiência de caminhada, e outras percepções difíceis de medir por meio de indicadores.

Na mesma linha, pesquisadores do “Laboratório Cidades do Futuro”, em Singapura, empenhados em capturar as características essenciais para avaliação da qualidade dos espaços públicos, formataram um “Índice de Qualidade do Espaço Público” (IQEP), estruturado em análises de decisão multicritério, para
medir a qualidade do espaço público de maneira sistemática.

Na primeira fase do trabalho, os pesquisadores decidiram quais características de um espaço público (como a forma, o número de árvores e bancos etc.) são relevantes para descrever a sua qualidade. Selecionados os critérios que determinam a qualidade do espaço público, o passo seguinte foi determinar o quanto cada um contribui para a qualidade geral, ou seja, determinar sua ponderação numa avaliação quantitativa. Numa etapa final, são agregados todos os critérios em uma pontuação de qualidade do espaço público, usando seus respectivos pesos e funções de valor, obtidos nas pesquisas.

As características de qualidade adotadas para a formulação do IQEP foram: flexibilidade no uso,
capacidade de interação com o entorno, níveis de manutenção e limpeza, escala humana, atratividade visual, conforto térmico, segurança, poluição, iluminação e suporte ao engajamento social, ativo e passivo da população.

Obviamente, esses estudos e propostas de indicadores não são modelos definitivos, mas podem servir como uma ferramenta importante para planejadores urbanos e formuladores de políticas avaliarem e compararem projetos de espaços públicos de uma forma mais objetiva. Isso permitirá que
eles explorem as qualidades esperadas para esses espaços, tanto em termos de uma gama diversificada de necessidades, como no que diz respeito à sua qualidade.

Claudio Bernardes é vice-presidente do Secovi-SP.

* Artigo publicado na Folha On-Line no dia 25/8.