O processo de compra de um imóvel, para a maioria das pessoas, une sensações distintas: o entusiasmo do planejamento de um novo lar ou de um escritório repaginado, e disposição para encarar uma verdadeira maratona de visitas a estandes ou aos próprios imóveis, muitas vezes se deparando com uma realidade bem diferente da expectativa.

Nos últimos anos, a tecnologia vem transformando esse quadro, ajudando a eliminar etapas desse processo. Antes de ir a uma imobiliária ou a um estande, o consumidor, já há um bom tempo, procura informações em sites. E, nessa rede virtual, novas tecnologias surgem a todo momento. A partir de um celular, computador ou tablet, o consumidor tem, hoje, acesso a imagens em alta resolução ou em 360 graus, a “maquetes digitais”, em realidade virtual ou aumentada, e a imagens aéreas, captadas por drones.  Elas são capazes de, à distância de um clique ou um toque na tela, “transportar” o interessado até o imóvel, dando forma a um empreendimento ainda na planta ou assegurando uma percepção bem próxima da disposição de cômodos em uma unidade já construída. Essas informações não embasam, é claro, a decisão final do consumidor. Mas chamam a atenção para opções que realmente interessam, o que significa economia de tempo.

Essas tecnologias são importantes para toda a cadeia do setor imobiliário, destaca Ricardo Paixão Barbosa, vice-presidente da Rede Imobiliária Secovi e diretor da Marc Negócios Imobiliários. “O setor imobiliário lida com uma quantidade enorme de dados e toda tecnologia que ajuda a extrair conhecimento dessas informações pode ajudar no fomento dos negócios”, afirma. Ainda segundo Barbosa, essas ferramentas atendem a uma demanda do próprio mercado. “É crucial estar presente onde o cliente está. Nos dias de hoje, isso significa estar nos dispositivos móveis. Os portais imobiliários já têm grande parte de seu tráfego gerado pelo mobile. Agora, as imobiliárias precisam dar continuidade no atendimento onde os clientes estão. Muitos corretores já trocam dados com clientes por meio de aplicativos de mensagens e redes sociais, porém muita informação rica se perde na informalidade. Há que se integrar toda esta informação nos sistemas das imobiliárias”, pondera.

Realidade virtual x Realidade aumentada – No caso de novos empreendimentos, Marcelo Dadian, membro da vice-presidência de Incorporação do Secovi-SP, afirma que as novas tecnologias “chegaram para ficar”. Dentre elas, a realidade virtual, que assegura, por meio do uso de óculos, uma “imersão” em determinado ambiente, simulando que a pessoa esteja, por exemplo, em um apartamento decorado. E a realidade aumentada, que permite a manipulação virtual, por celular, iPad ou câmera, de imagens projetadas no mundo real, formando, no caso de empreendimentos ainda na planta, maquetes digitais, criadas em códigos bidimensionais (os QR codes) e captadas por meio de aplicativos. 

“O ideal é a combinação das duas tecnologias. Muitas pessoas apostavam que a realidade virtual substituiria os estandes de vendas. Mas essa é uma experiência muito solitária e as pessoas, geralmente, visitam os estandes acompanhadas da família. Por isso, a realidade ampliada é melhor. Ela tem várias outras aplicações, incluindo em tapumes do empreendimento, mostrando várias de suas instalações”, relata.

Ainda segundo Dadian, a realidade aumentada pode “dar vida” às maquetes tradicionais. “É possível colocar códigos nas áreas que representam o campo de futebol, a piscina ou o salão, gerando imagens de pessoas jogando, nadando ou participando de uma festa. Com isso, quando a pessoa acessa, já começa a se imaginar no empreendimento, brincando com as crianças ou comemorando o aniversário do filho”, completa.

Embora o acesso à realidade aumentada possa ser feito de smartphones em versões bastante simples, ele destaca que o uso dessa tecnologia – e mesmo da realidade virtual – ainda não está consolidado no mercado e que o atual momento, de crise econômica, contribui para isso. “Estamos em um período em que não há muitos lançamentos. E, nesse cenário, as empresas preferem investir no que é mais tradicional. Não é uma questão financeira, mas cultural.  É preciso estabelecer prioridades, mais do que verba, para se adotar essas tecnologias. E atualmente a prioridade está no tradicional”, reforça.

Bem na foto – No caso de imóveis usados, uma das vantagens do uso dessas ferramentas tecnológicas é assegurar ao interessado a chance de fazer um levantamento das opções, sem a necessidade de visitas a um grande número de unidades. Em grandes cidades, como São Paulo, há o problema de deslocamento, devido ao trânsito. E as novas tecnologias ajudam a ganhar tempo nas visitas. Nesse sentido, algumas das aliadas dos compradores são as fotos em alta resolução, em 360 graus – que permitem uma visão panorâmica de todo o ambiente – e as captadas por drones, para imagens aéreas.  Elas chegam direto ao computador, tablet ou celular. Com isso, se tornam um filtro natural.

A tecnologia está presente em duas “pontas” importantes da cadeia: o consumidor e o corretor. O celular, por exemplo, encurta o encontro entre as pessoas. Corretores e clientes utilizam muito o WhatsApp para se comunicar e, muitas vezes, só se encontram na primeira visita. O consumidor é muito receptivo a isso, pois não precisa nem ir à imobiliária. O corretor, também. A tecnologia quebrou a barreira entre grandes e pequenos. Agora, todos podem oferecer um serviço de qualidade.

Por outro lado, ainda há resistência por parte de alguns condomínios, que costumam criar barreiras até para que áreas comuns sejam fotografadas. E não deveria ser assim, porque, para o condomínio, esse procedimento reduz o número de visitas e facilita a ocupação. Outro problema é a falta de materiais digitalizados com informações sobre condomínios mais antigos, o que dificulta a divulgação desses. “Os condomínios deveriam preparar um portfólio digital, mesmo que simples. Assim, é possível ter acesso facilitado a informações básicas, como horário de uso do salão de festas ou normas da área de lazer. Hoje, tudo isso é muito burocrático.

Embora a divulgação de imóveis por essas ferramentas – principalmente fotos – seja uma medida difundida em todo o mundo, ela ainda é exceção no Brasil. E deixa um recado a quem ainda não aderiu a essa tendência. Quando o cliente vê a imagem pelo celular ou aplicativo, tudo fica mais fácil. Até o tempo de visita é mais rápido. Quem ainda não adota essa prática, tem de correr atrás, porque será superado.

Viagem virtual – O mercado imobiliário também deve ganhar, em breve, uma plataforma exclusiva para armazenagem e divulgação de fotos em 360 graus de empreendimentos. A Banib/Conecta é um projeto da empresa Stratos 360° – especializada em projetos em fotos e vídeos em 360 graus – que permite às imobiliárias capturarem imagens dos empreendimentos e, por meio de um aplicativo para smartphones, as enviarem para a plataforma, transformando-as em uma experiência de realidade virtual. Segundo os sócios Renato Rodrigues e Luciana Silva, a ideia de criar a plataforma surgiu de uma demanda do próprio mercado. “Muitas imobiliárias nos procuravam para fazer tour virtual em 360° de casas a venda ou para locação, mas a complexidade técnica e o alto custo inviabilizavam esse atendimento. Pensamos, então, em uma plataforma que facilitasse essa possibilidade, com baixo custo e praticidade”, conta Luciana.

Segundo ela, o uso é simples tanto para a empresa quanto por seus clientes. “A apresentação ao cliente pode ser feita por computador, tablet, smartphone ou óculos de realidade virtual, como o Gear VR, da Samsung, que proporciona uma experiência ainda mais real”, completa. Essa “viagem virtual” vai permitir que a pessoa conheça detalhes dos imóveis, como a distribuição dos quartos e o acesso de um cômodo para outro. “São informações muito relevantes, que texto e fotos comuns não conseguem revelar. E a única solução, hoje, é visitar o local pessoalmente”, acrescenta. O projeto está em fase final de homologação da plataforma, e a Stratos conta com 210 imobiliárias aguardando a ferramenta. O investimento necessário é a aquisição de uma câmera específica de captação de imagens em 360°. “Já por meio da nossa plataforma forneceremos orientações e vídeo aula sobre o equipamento, a utilização e quanto à construção do tour virtual em 360°, além de sua publicação no site da imobiliária ou incorporadora e redes sociais”, explica.

Reportagem de Erica Celestini publicada na edição nº 284, de julho de 2017. É permitida a reprodução do texto, desde que citada a fonte.